Um memorando do FBI enviado no dia 13 de outubro à Polícia Federal brasileira identificou dois estrangeiros naturalizados (um sírio e um libanês) e três brasileiros que, suspeita-se, integram uma rede de recrutamento de terroristas. A atuação incomum de parte dos alvos, que, sem condições financeiras, viajaram diversas vezes para o Líbano, levou investigadores a deflagrarem há duas semanas uma operação para interromper supostos atos preparatórios de ataques extremistas no Brasil.
Documentos sigilosos obtidos por VEJA mostram que, para além da prisão dos três brasileiros no último dia 13, os policiais trabalham com indícios de que o principal suspeito, Mohamad Khir Abdulmajid, procurado pela Interpol por supostamente atuar no recrutamento para o grupo terrorista Hezbollah, pode estar usando dinheiro de contrabando de mercadorias proibidas para financiar atos preparatórios ao terrorismo no país.
Segundo a investigação, Mohamad Khir Abdulmajid estaria se passando pelo irmão Hussain para controlar empresas e realizar operações financeiras. Com a carteira de motorista do irmão, que sequer estava no Brasil na época da fraude documental, ele estaria apto, entre outras coisas, a abrir empresas, contratar empréstimos e realizar transações sem vincular diretamente seu nome às operações.
A polícia rastreou os passos de Khir porque, a partir dos dados do FBI enviados à PF, descobriu-se que o libanês naturalizado brasileiro já fez postagens em redes sociais em que acusava Israel de ser “um criminoso de guerra”, divulgou textos simpáticos ao Hezbollah e, entre 2016 e 2017, passou 18 meses no Irã, país apontado pelo serviço secreto israelense como responsável pelo apoio financeiro ao grupo terrorista libanês.
Postagens localizadas em uma conta nas redes sociais de Mohamad “indicam simpatia do terrorista por Hassan Nasrallah, líder do Grupo Hezbollah”, diz o inquérito da PF a que VEJA teve acesso. Uma destas postagens mostra Nasrallah sorridente, em 2012. Em outra postagem, de 2016, um homem não identificado segura a bandeira da Síria e a do Hezbollah. Em uma terceira, de 2016, Mohamad aparece em cima de um veículo de guerra na Síria, segurando um fuzil. Em conjunto, os fatos permitiram aos investigadores avançarem na hipótese de que ele trabalhava para recrutar brasileiros para atos extremistas.
Outro suspeito na mira da PF é Haissam Houssin Diab, libanês naturalizado brasileiro que, de acordo com policiais, atuaria em parceria com Mohamad Khir. A corporação rastreou viagens de Diab, entre as quais uma de novembro de 2017 para o Irã. Também investigados por suspeita de integrarem uma rede de recrutamento, os brasileiros Michael Messias, Jean Carlos de Souza e Lucas Passos Lima viajaram recentemente duas, três e uma vez ao Líbano, respectivamente. Os três foram presos no dia 13 de novembro pela PF e negam as acusações.