Um tribunal russo deu a largada, nesta quarta-feira, 26, ao julgamento do jornalista americano Evan Gershkovich, acusado de espionagem. O processo, que os Estados Unidos denunciaram ter motivações políticas, ocorrerá a portas fechadas. Caso ele seja condenado, pode pegar até 20 anos de prisão.
Nesta quarta-feira, o repórter do jornal americano The Wall Street Journal compareceu a um tribunal em Ecaterimburgo com a cabeça raspada pelas autoridades penitenciárias, após ser transferido da prisão de Moscou, onde está desde março de 2023. Ele é o primeiro jornalista dos Estados Unidos a ser detido na Rússia sob acusação de espionagem desde o colapso da União Soviética.
O julgamento foi fechado ao público, como é comum em casos de espionagem, o que significa que a imprensa está proibida de publicar qualquer prova ou depoimento ouvido no caso.
O WSJ reiterou que Gershkovich foi credenciado pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia para trabalhar no país, e que ele foi preso apenas por praticar jornalismo.
“Chamar isso de julgamento é injusto para Evan; uma continuação dessa paródia de justiça que já dura há muito tempo”, escreveu Emma Tucker, editora-chefe do WSJ. “Esta falsa acusação de espionagem conduzirá inevitavelmente a uma falsa condenação de um homem inocente que enfrentaria até 20 anos de prisão por simplesmente fazer o seu trabalho.”
O caso
Gershkovich foi preso durante uma viagem a trabalho a Ecaterimburgo, nos Montes Urais, em março do ano passado. Em seguida, foi transferido para a prisão de Lefortovo, em Moscou, que é gerida pelo serviço de segurança russo, o FSB, e mantém prisioneiros de alto valor.
A investigação alega que o repórter, na verdade, estava nos Urais para coletar informações sobre o Uralvagonzavod, um fabricante de armas russo com sede perto de Ecaterimburgo , responsável por produzir os principais tanques de batalha do país. Não foi divulgada, porém, nenhuma evidência no caso.
Troca de prisioneiros
O presidente russo, Vladimir Putin, indicou que quer trocar Gershkovich por cidadãos russos que cumprem penas de prisão no exterior. Mais especificamente, ele mencionou Vadim Krasikov, um alegado assassino do FSB condenado a prisão perpétua por homicídio na Alemanha. Washington e Moscou tiveram conversas sobre uma troca de prisioneiros, mas ainda não chegaram a um acordo.
Putin disse no início deste mês que continuava negociando com o governo americano sobre uma potencial troca. “Sei que a administração dos Estados Unidos está realmente tomando medidas enérgicas para a sua libertação. Isto é verdade. Mas essas questões não são resolvidas através dos meios de comunicação social”, disse Putin durante uma reunião com jornalistas em São Petersburgo.
Os Estados Unidos acusaram a Rússia de praticar uma “diplomacia de reféns”. Segundo Washington, Gershkovich e outro americano preso, Paul Whelan, foram “detidos injustamente”. O governo afirma estar empenhado em trazê-los para casa.