Rodolfo Hernández, o populista de direita que virou fenômeno eleitoral na Colômbia, carrega vários apelidos, entre os mais conhecidos: “Trump da Colômbia” e “Bolsonaro de Macondo”, cidade fictícia do romance de Gabriel García Márquez Cem Anos de Solidão.
Já dá para entender o tom da campanha. Com uso massivo de redes sociais, discurso antissistema extremo, independência de grandes partidos, ausência de um programa de governo e propostas concretas e ausência em debates, Hernández baseou sua campanha na premissa de que será “diferente da casta política” e não será corrupto.
Apesar de ter largado atrás na disputa presidencial colombiana, possuindo menos de 10% das intenções de voto há dois meses, vai disputar o segundo turno com o esquerdista Gustavo Petro.
Petro segue na liderança com a preferência da população e recebeu 40,4% dos votos. Mas seu oponente não teve nada de fraco: Hernández obteve 27,9% dos votos. Muitos analistas acreditam que esta força renovada o levará a eleger-se como sucessor do presidente Iván Duque.
Mesmo assim, para derrotar Petro, o “Bolsonaro de Macondo” precisa ter cuidado com futuras alianças, já que sua única bandeira sólida é o combate à corrupção e à política tradicional. É possível que ele conte com o apoio de eleitores do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), que também surgiu com um discurso antipolítica – mas virou símbolo da política tradicional e conservadora colombiana.
Para Petro, essa já é a terceira vez que tenta a presidência da Colômbia. Ele se candidatou em 2010 e 2018, mas foi derrotado em ambas as eleições. Petro é ex-guerrilheiro do M-19 e ex-prefeito de Bogotá. Na véspera da eleição, Petro, que conta com a simpatia de setores da esquerda brasileira, agradeceu ao “apoio” do ex-presidente Lula, líder nas pesquisas nacionais de intenção de votos, e disse que, se eleito, pretende firmar uma parceria com o Brasil para “salvar a selva amazônica”.
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Os dois candidatos mais votados no primeiro turno da eleição colombiana têm uma coisa em comum: representam um voto de rejeição ao establishment. Mas analistas sugerem que as diferenças entre os candidatos favorecem, hoje, Hernández – que, num passado não muito distante, disse admirar Adolf Hitler (um lapso, segundo ele).
O ex-guerrilheiro parece ter chegado ao seu pico de apoio e deve enfrentar dificuldades para ampliar os pouco mais de oito milhões de votos alcançados no primeiro turno. Para derrotar o outro candidato do primeiro turno, Federico Gutiérrez, herdeiro do uribismo, só era preciso fazer campanha contra a velha política, mas Hernández é uma novidade viral difícil de compreender (e, portanto, de enfrentar).
Se o populista de direita ficar com os votos de Gutiérrez, Petro está enrascado. Uribistas como a senadora Maria Fernanda Cabal, próxima da família Bolsonaro, já disseram que “o povo quer uma mudança, tudo bem, mas não um suicídio”.
Com um perfil que remete a outras experiências populistas na América Latina, Hernández pode acabar sendo mais forte graças ao medo a Petro e aos fantasmas da venezuelização da Colômbia. Se os governos da região funcionam como um pêndulo que alterna entre esquerda e direita, pode ser que, desta vez, ele ainda não esteja preparado para alternar.