Chilenos rejeitam nova Constituição pela segunda vez; Entenda
A reforma constituinte no país foi enterrada de vez depois da população negar tanto as propostas da esquerda quanto as da extrema direita
O Chile, no domingo 17, rejeitou em plebiscito a segunda proposta para uma nova Constituição do país, que substituiria a Carta Magna herdada do regime do ditador Augusto Pinochet. Com 99% das urnas apuradas, 56% da população votou contra e 44% a favor do texto, considerado ainda mais liberal do que o atual, representando um freio no avanço da extrema direita na nação sul-americana.
Embora tenha sido um dos principais defensores de uma nova Constituição, o presidente Gabriel Boric, ícone da esquerda na América Latina, saiu temporariamente vitorioso com o resultado de domingo. A primeira versão do texto, considerada extremamente progressista, foi rejeitada em 2022, mas agora a população também recusou a versão 2.0, bem mais conservadora.
Boric disse que “o processo constitucional está encerrado” e que agora “as urgências são outras”, além de criticar opositores por tentarem fazer uma “campanha do medo”.
“O fim do processo deve gerar um clima para um melhor entendimento”, disse Boric, destacando que a proposta gerou frustração e desinteresse em boa parte da população. “Nem celebração, nem arrogância. Bola no chão, humildade e trabalho. Muito trabalho.”
+ ‘Profunda miséria moral’: A reação dos chilenos à morte de Henry Kissinger
Divisão e cansaço
Nas urnas, o clima de domingo era de que a Constituição de Pinochet era “a menos pior”. Entre os temas abordados na proposta, o aborto foi um dos mais que mais dividiu a população. O novo texto abria brechas ao procedimento porque adicionou o conceito de “objeção de consciência”, quando um profissional pode negar práticas que possam ser contrárias as suas convicções.
No geral, a população sai cansada do processo da reforma constituinte, mesmo com uma participação de 84% no plebiscito. A oposição culpou a esquerda pela exaustão.
Depois da divulgação dos resultados, o ex-presidenciável José Antonio Kast, representante da extrema direita no país, admitiu que não foi capazes de convencer a população de sua proposta. No entanto, disse que se “não podemos celebrar, tampouco a esquerda pode”.
Kast acrescentou que os “chilenos não querem mais discursos, querem mudanças”. Boric pode ter evitado o desconforto de promulgar uma Constituição ultraliberal, mas o processo constituinte parece ter colocado a direita tradicional em primeiro plano, diante da polarização. Evelyn Mathei, popular subprefeita de Providência (região rica na capital Santiago) e possível candidata presidencial para 2025, pode ser fortalecida.