O chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, revelou nesta sexta-feira que não pode enviar dinheiro para seus parentes “famintos” na região de Tigré, na Etiópia, devastada pela guerra.
“Tenho muitos parentes lá. Quero enviar dinheiro a eles. Não posso enviar dinheiro”, disse em entrevista coletiva. “Nem sei quem está morto ou quem está vivo”, acrescentou.
Desde que a guerra começou em 2020, a região ficou isolada do mundo exterior, sem eletricidade, telefones, internet e serviços bancários. O governo da Etiópia foi acusado de impor um bloqueio de ajuda humanitária à região que impediu entregas de suprimentos cruciais – algo que atribuiu aos combates.
Dezenas de milhares de civis morreram e o Programa Mundial de Alimentos diz que quase metade da população de 5,5 milhões do Tigré está em necessidade “grave” de alimentos.
Os combates foram retomados nesta semana após meses de calma, devido a uma trégua acordada em março entre as forças de Tigré e o governo etíope para permitir a chegada de ajuda humanitária.
Não é a primeira vez que Tedros, ex-ministro da Saúde da Etiópia, fala sobre a guerra. Na quarta-feira 24, ele disse que a situação era pior do que na Ucrânia e sugeriu que o racismo estava por trás da diferença na resposta global.
“Posso dizer que a crise humanitária em Tigré é maior que a da Ucrânia, sem exageros. E eu disse isso há muitos meses, talvez a razão seja a cor da pele das pessoas em Tigré.”
Em 2020, ele negou as acusações de um general etíope de que havia ajudado a adquirir armas para os rebeldes Tigré. “Houve relatos sugerindo que estou tomando partido nesta situação. Isso não é verdade”, ele tuitou na época.
A luta continua nesta sexta-feira, com as forças do Tigré dizendo que o governo realizou ataques aéreos na capital da região, Mek’ele.
A televisão afiliada às forças do Tigré mostrou imagens de um prédio destruído e disse que civis foram mortos nos ataques, mas não houve comentários do governo e as informações não podem ser verificados de forma independente.
Um porta-voz da Frente de Libertação do Povo Tigré (TPLF), Getachew Reda, disse à emissora BBC News que combates pesados ainda estavam acontecendo e que o povo de Tigré estava sofrendo. O TPLF culpa o exército etíope pelo início dos combates, enquanto a Etiópia culpa o TPLF.
“Temos pessoas famintas por causa do cerco imposto a nós pelas autoridades em Adis Abeba [capital da Etiópia] e seus parceiros no crime. Temos pessoas que precisam desesperadamente de ajuda humanitária”, disse Getachew. “Seria imprudente começarmos uma guerra quando, na verdade, nosso povo precisa de ajuda humanitária.”
A guerra do Tigré eclodiu na região norte da Etiópia em novembro de 2020 e depois se espalhou para o sul, nas regiões de Amhara e Afar.
Milhares de pessoas foram mortas, mais de dois milhões fugiram de suas casas e cerca de 700.000 estão vivendo em “condições análogas à fome”, disseram autoridades dos Estados Unidos.