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Carta ao Leitor: Um alerta universal

Apesar de se vender desta vez como mais tolerante, a vitória do Talibã é — sem dúvida — uma derrota para a civilização

Por Da Redação Atualizado em 4 jun 2024, 13h08 - Publicado em 20 ago 2021, 06h00
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  • Causou horror nesta semana a imagem de uma aeronave militar americana abarrotada com mais de 600 afegãos dispostos a escapar de Cabul, mesmo com a capacidade indicada de apenas 100 indivíduos. A cena remete ao desespero de refugiados vietnamitas amontoados em 1975, em busca de alguma saída, em momento decisivo da guerra entre americanos e vietcongues. Embora o pano de fundo fossem conflitos bélicos, os grupos retratados, na verdade, fugiam principalmente da tirania imposta pelos vencedores, um mal ancestral que vem ganhando força na atualidade. Apesar de se vender desta vez como mais tolerante, a vitória do Talibã é — sem dúvida — uma derrota para a civilização. E a multidão afobada é um reflexo disso. Ela quer se afastar da mordaça, do fundamentalismo, que, entre outras insanidades, proíbe as mulheres de viver como seres humanos.

    Reportagem de capa: Vitória do Talibã ameaça novo mergulho do Afeganistão no obscurantismo

    Ressalve-se que a vitória dos radicais, para além do totalitarismo, representa um atentado à natureza do islamismo. Como já observou uma reputada historiadora das religiões, a inglesa Karen Armstrong, que durante sete anos foi freira, “os extremistas sequestraram a biografia de Maomé”. Trataram de estabelecer uma leitura do personagem religioso que combinasse com seus anseios violentos. Eis o que afirmou Karen: “Maomé disse que Deus exortou tribos e nações a se conhecer melhor, não a cometer atentados ou odiar. O Alcorão diz que matar é diabólico”.

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    A interpretação distorcida de textos religiosos, atrelada a interesses políticos bem mundanos, é recurso milenar que, na era da cacofonia das redes sociais, ressurge assustadoramente em pleno século XXI. Trata-se de uma postura que se alimenta da treva, dos radicalismos e da ignorância. A tinta fundamentalista — que o Talibã representa em seu grau mais nefasto e incomparável — é um exemplo emblemático destes tempos de retrocesso, em que muitas pessoas se arvoram no direito de gritar contra a vacinação, a favor da ideia do terraplanismo e de outras mentiras, na contramão da ciência e dos fatos. Uma indesejável volta ao passado.

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    Convém, portanto, entender o avanço dos talibãs como sinal de alerta universal. A mistura de religião com armas é deplorável, uma combinação que, ao longo da história, tem resultado sempre em desastre. Por isso é preciso permanente vigilância para que o atraso, em nome de falsas profecias e delírios, não vença. Como disse uma vez a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, de 24 anos, prêmio Nobel da Paz, ela mesma ferida por tiros de bandos de talibãs que a impediam de frequentar a escola: “Eles acham que Deus é um pequeno ser conservador que mandaria garotas para o inferno apenas porque vão à escola”. Uma tristeza que pensamentos tão retrógrados e bárbaros prosperem no Afeganistão ou no resto do planeta.

    Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2021, edição nº 2752

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