Criada por um ativista da extrema direita, uma campanha de arrecadação de fundos conseguiu mais de 1 milhão de euros (cerca de 5,2 milhões de reais) para o policial investigado pelo assassinato de um adolescente na França na semana passada. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira, 3, pelo jornal britânico The Guardian.
O jovem Nahel M., de 17 anos e filho de imigrantes, foi morto a tiros após ser abordado por dois policiais em Nanterre, comuna próxima a Paris, na última terça-feira. O assassinato provocou uma série de protestos por todo o país, com um saldo de milhares de manifestantes presos por confrontos violentos com a polícia.
Identificado como Florian M., o oficial de 38 anos teria sido responsável pela morte do adolescente. Em uma forma de apoio incondicional às forças de segurança da França, Jean Messiha, ex-porta-voz do candidato presidencial de extrema direita Éric Zemmour, iniciou uma campanha para arrecadar fundos para o policial.
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“Apoio à família do policial de Nanterre, Florian M., que fez seu trabalho e hoje está pagando um preço alto. Apoie-o massivamente e apoie nossa polícia”, dizia a descrição da “vaquinha”.
Com a meta de 50 mil euros, a iniciativa conseguiu ultrapassar o valor mínimo a partir de mais de 58 mil doações. Entre elas, um benfeitor anônimo doou sozinho 3 mil euros, enquanto outros foram responsáveis por transferir quantias próximas a mil euros. Em contrapartida, a campanha organizada para prestar auxílio à família do adolescente morto arrecadou menos de 200 mil euros (cerca de 1 milhão de reais).
“Ele tirou a vida do meu neto. Este homem deve pagar, igual a todos”, desabafou a avó de Nahel, Nadia, ao descobrir sobre os valores da campanha do policial. “Tenho confiança no sistema de Justiça. Eu acredito na Justiça.”
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A legislação francesa proíbe a “abertura ou anúncio público de assinaturas cujo objetivo seja compensar multas, custas e danos concedidos por sentenças judiciais em matéria penal e correcional”, sob pena de seis meses de prisão ou uma multa de 45 mil euros (235,8 mil reais) em caso de descumprimento.
No entanto, um porta-voz da empresa GoFundMe, plataforma que veicula a campanha, afirma que o fundo estaria de acordo com os limites estabelecidos pela lei, já que não tinha como finalidade o pagamento dos honorários advocatícios ou a defesa do policial, mas, sim, o apoio à sua família.
Indignada, a deputada do Parlamento Europeu Manon Aubry demandou que a arrecadação fosse interrompida, uma vez que veiculava uma mensagem de que “vale a pena matar um jovem árabe”.
Près d'un million d'euros collectés à l'initative d'un polémiste d'extrême-droite en soutien à un policier qui tue un adolescent.
Le message ? Cela rapporte de tuer un jeune arabe.
Et le gouvernement ferme les yeux. Cette cagnotte doit être supprimée au plus vite ! https://t.co/S39RGYeIdD
— Manon Aubry (@ManonAubryFr) July 3, 2023
Unindo-se ao rol dos críticos, o chefe do Partido Socialista, Olivier Faure, também exigiu o fim da campanha. “Você está perpetuando uma brecha já aberta ao apoiar um policial investigado por homicídio culposo. Feche-a!”, escreveu nas redes sociais. Em discordância, Éric Ciotti, político de centro direita, disse que é válido “apoiar a família de um policial que está passando por um momento difícil hoje”.