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Brasil recebe chanceleres para reunião do G20 em meio à crise com Israel

Começa nesta quarta-feira, 21, primeiro encontro durante a inédita presidência brasileira do grupo; diplomatas de Brasília e Tel Aviv subiram tom da briga

Por Da Redação
Atualizado em 7 Maio 2024, 17h07 - Publicado em 21 fev 2024, 09h12
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  • O Rio de Janeiro recebe nesta quarta-feira, 21, os ministros das Relações Exteriores dos membros do G20, bloco que reúne as maiores economias do mundo, sob presidência do Brasil desde dezembro do ano passado, para o primeiro de dois dias de reunião. O evento será liderado pelo chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e ocorre no auge de uma crise diplomática com Israel.

    O encontro também promete ser quente por outros motivos. Entre os chefes da diplomacia do grupo, estarão presentes o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. Eles vão ficar cara a cara em um momento em que as relações entre Washington e Moscou estão bastante tensionadas. Além da guerra na Ucrânia, na qual os americanos tomaram partido do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, as tensões se elevaram na semana passada por conta da morte do líder opositor russo Alexey Navalny.

    + O que esperar da reunião de chanceleres do G20 no Rio de Janeiro

    Antes do encontro de chanceleres, que ocorrerá na Marina da Glória, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos foi a Brasília para uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo o Itamaraty, eles devem discutir a parceria entre os dois países pelos direitos dos trabalhadores, a cooperação na transição para a energia limpa e as comemorações do bicentenário das relações diplomáticas Brasil-EUA.

    Já Lavrov deve ter uma bilateral com Mauro Vieira durante o encontro no Rio. Antes disso, o chanceler russo esteve em Cuba e na Venezuela para se reunir com os líderes dos dois países: Miguel Díaz-Canel e Nicolás Maduro, respectivamente.

    Briga diplomática com Israel

    A reunião dos chanceleres ocorre em meio a uma crise diplomática entre Brasil e Israel, desencadeada por uma fala em que Lula comparou as ações militares israelenses contra os palestinos em Gaza ao Holocausto, que matou mais de 6 milhões de judeus durante o regime nazista de Adolf Hitler. “Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente brasileiro.

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    Em resposta, na segunda-feira 19, o governo israelense declarou o presidente Lula persona non grata e convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, para uma reprimenda. O que costuma ser uma etapa do balé diplomático geralmente confinada às chancelarias virou espécie de espetáculo, já que o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, escolheu o museu do Holocausto Yad Vashem como cenário incomum do encontro. Ele mostrou o nome de seus avós no livro das vítimas, a infindável compilação dos que morreram de tantas formas diferentes.

    + A primeira reunião do fórum de negócios do G20 sob presidência do Brasil

    Depois disso, o governo Lula chamou Meyer de volta ao Brasil, como adiantou o Itamaraty a VEJA na segunda-feira. A desocupação do posto em Tel Aviv tem objetivo de fazer “consultas”, segundo um funcionário ligado à diplomacia brasileira disse à reportagem, mas sugere um agravamento do impasse diplomático entre Brasil e Israel, já recheado de tensão. O Itamaraty também anunciou na segunda-feira que convocou o embaixador israelense em Brasília, Daniel Zonshine, para comparecer a uma reunião com o chanceler Mauro Vieira.

    Na terça-feira, Katz deu sinal de que a briga está longe do fim. Numa postagem no X, antigo Twitter, o chanceler israelense subiu o tom com Lula e exigiu uma retratação por sua fala, que qualificou como “promíscua, delirante”, além de “um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, devolveu: disse que os comentários de Katz foram “inaceitáveis”, “mentirosos” e “vergonhosos para a história diplomática de Israel”.

    + O duro ataque do chanceler israelense a Lula: ‘Cuspiu no rosto dos judeus’

    O G20 sob liderança brasileira

    A liderança brasileira faz parte do sistema de presidências rotativas do G20, e dura até novembro deste ano. É a primeira vez que o Brasil ocupa a presidência do fórum. O governo Lula ficou a cargo, então, de receber o importante encontro da cúpula de Chefes de Estado e de Governo do G20, marcado para 8 e 19 de novembro. Até a data, serão cerca de 130 reuniões, parte delas presenciais, distribuídas por 15 cidades do país.

    Além do Brasil, compõem o G20 a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além dos blocos União Africana e União Europeia. Juntos, representam cerca de 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e dois terços da população do planeta.

    + Representando os EUA, Blinken se reúne com Lula e Milei na próxima semana

    Assuntos em voga

    Brasília estabeleceu três tópicos centrais para o encontro, segundo comunicado do portal do G20 no Brasil:

    1. Inclusão social e combate à fome e à pobreza;
    2. Promoção do desenvolvimento sustentável, considerando-se seus 3 pilares: social, econômico e ambiental;
    3. Reforma das instituições da governança global”.

    Ou seja, as reuniões mergulharão em debates relacionados a temas quentes do cenário político internacional, como os efeitos das guerras Israel-Hamas e Rússia-Ucrânia, além da reforma dos organismos internacionais, como ONU, OMC (Organização Mundial do Comércio) e bancos multilaterais. Em janeiro, as Nações Unidas alertaram sobre a fome “generalizada” na Faixa de Gaza, em razão da ofensiva militar israelense. A desnutrição também aumenta o risco de disseminação de doenças infecciosas, acrescentou na ocasião.

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