De improviso, o presidente do Chile, Gabriel Boric, participou na quinta-feira, 10, de um protesto pelo acesso à moradia, em Santiago, capital chilena. Do lado de fora do Palácio de La Moneda, manifestantes criticavam a Lei de Usurpação, que tipifica criminalmente a ocupação ilegal de imóveis, enquanto a proposta era discutida na sede presidencial.
Ao lado da ministra da Mulher, Antonia Orellana, Boric saiu do gabinete presidencial munido de um megafone, apesar da preocupação da escolta com a sua segurança, de acordo com o jornal chileno La Tercera. Sem citar nomes, ele disse que “tem gente que não gosta” de suas conversas diretas com a população, mas que tem “a clareza e a certeza” do seu papel.
“Quando houver erros, faremos as pazes junto com você, porque são as pessoas a quem devemos a nós mesmos”, disse. “Conte comigo como presidente para continuar sempre conversando e enfrentando juntos as dificuldades que temos, porque esse problema (trabalho) não é fácil. Mas não vou dar o braço a torcer para cumprir os desejos e o programa que o povo nos confiou”.
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Nas ruas, Boric acrescentou que pretende extrapolar o plano de construção de 260 mil habitações, mesmo com as críticas de que seria “impossível”, e que segue com a promessa de “cumprir os desejos e o programa que o povo confiou”. A presença do presidente chileno foi uma surpresa, inclusive, para sua equipe pessoal, que só teria sido informada de sua saída com poucos minutos de antecedência.
Hoy conversé con pobladoras y pobladores que estaban manifestándose afuera de La Moneda. Junto a ellas y ellos, avanzaremos en nuestra meta de construir 260 mil viviendas durante nuestro mandato! pic.twitter.com/jEhEZ8S6DF
— Gabriel Boric Font (@GabrielBoric) August 10, 2023
As fugas no roteiro são, no entanto, fonte de críticas dos grupos de oposição ao governo. Com a presença na manifestação desta quinta-feira, outros protestos demandam a presença de Boric, aumentando a seara de problemas para o presidente. Especialistas também questionam a imprevisibilidade, que escancararia uma “tentativa desesperada de Boric de mostrar que o governo está do lado do povo”, disse o cientista político e acadêmico da Universidade de San Sebastián, Kenneth Bunker, ao portal argentino Infobae.
Somando-se aos críticos, o ex-legislador e especialista eleitoral Pepe Auth, em fala ao El Mercurio, defendeu que “o papel de um presidente não é o de agitador social ou de gladiador na luta política, é o de articulador da maioria e líder da nação”, ao passo que o sociólogo e cientista político Alfredo Joignant afirmou em suas redes sociais que a postura de Boric “reduz o poder e o prestígio de uma situação já muito degradada há anos”.