O jornal americano The New York Times, um dos mais lidos do mundo, adicionou um novo termo ao vocabulário: “tchutchuca”. A novidade ocorre após um youtuber, na semana passada, ter usado a palavra para descrever a postura do presidente Jair Bolsonaro com o centrão no Congresso. A gíria viralizou, mas veículos internacionais tiveram que fazer malabarismos na tradução.
O monitoramento do vocabulário do jornal é feito por uma página no Twitter chamada New New York Times. “Tchutchuca” só foi anunciado como um novo vocábulo nesta sexta-feira, 26, mas a matéria publicada é de sábado 20, dois dias depois do incidente entre o presidente e o youtuber Wilker Leão.
tchutchuca
— New New York Times (@NYT_first_said) August 26, 2022
Na ocasião, o youtuber xingou Bolsonaro de “tchutchuca do centrão”, entre outras ofensas, e filmou o momento em que o presidente o aborda e tenta tirar seu celular.
A reportagem do Times precisou contatar uma tradutora para ajudar na missão de transmitir ao leitor internacional o real significado do que Bolsonaro foi chamado. O termo “centrão” também foi contextualizado.
O jornal reconheceu que tradução é particularmente complicada porque ambas as palavras são profundamente brasileiras e têm origens complicadas. “Centrão” foi mais direto ao ponto, e o Times definiu-o como “a poderosa coalizão centrista de partidos políticos que efetivamente controla o Congresso e tem sido criticada há muito tempo por construir acordos nos bastidores para beneficiar seus membros e lobistas”.
Tradutores disseram que “centrão” poderia ser traduzido como “o establishment político”.
Descrevendo a pronúncia de “tchutchuca” (choo-CHOO-kah), o jornal afirmou que o termo tem raízes na língua angolana e indígena tupi, mas que seu significado no contexto de Bolsonaro tem ligação com a música de funk carioca “Tchu tchuca” (2001), do grupo Bonde do Tigrão, cujo refrão diz: “Vem, tchutchuca / Vem aqui pro seu tigrão / Vou te jogar na cama / E te dar muita pressão”.
O Times indica ainda que a palavra entrou no mundo da política em 2019, quando um deputado (no caso, Zeca Dirceu, do PT) chamou Paulo Guedes, ministro da Economia, de “tchutchuca” com os bancos (e “tigrão” com os aposentados).
Em inglês, tradutores e linguistas disseram que o insulto poderia ser traduzido como cachorrinho do centrão (“lap dog”, cachorro de colo). A agência de notícias Associated Press optou pelo termo “querido”. Tom Phillips, correspondente do jornal britânico The Guardian no Brasil, usou “o idiota do establishment”.
O La Nación, da Argentina, afirmou que “tchutchuca do Centrão” significa algo como “cadelinha do Centrão” (“perrita del Centrao”). O francês Le Figaro optou por “putain du Centrao”, que é mais próximo de “prostituta do centrão”.
As tentativas continuam: na Holanda, o jornal RND traduziu “tchutchuca do centrão” como “queridinho dos políticos caipiras”, e o jornal chinês Huanqiu, por sua vez, disse que o termo significa “queridinho dos membros do Congresso envolvidos na alocação de verbas”.
Mas o Times diz que qualquer tradução para o inglês do novo apelido de Bolsonaro falha em capturar tanto o som peculiar de “tchutchuca” quanto seu significado cheio de nuances.
Flora Thomson-DeVeaux, uma americana que vive no Brasil há mais de uma década e traduz livros do português para o inglês, disse ao Times: “Tchutchuca era uma palavra inocente e então houve uma reviravolta safada. Então, algo como ‘pussycat’ se encaixaria”.