Na véspera da abertura da reunião de cúpula do Mercosul, o presidente Jair Bolsonaro declarou que a Argentina perderá muito mais do que o Brasil em caso de atrito bilateral. Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, 4, em Brasília, ele insistiu que seu governo adotará uma posição “pragmática” nas relações com o país vizinho que, a partir do dia 10, será governado pelo peronista Alberto Fernández. Na coletiva, transmitida ao vivo pelo perfil oficial de Bolsonaro no Facebook, ele lembrou ter a Argentina dado uma “guinada para a esquerda”.
“A gente vai para o pragmatismo. A gente brigando, a gente vai perder, mas a Argentina perde muito mais. Mas não quero perder não, não quero perder nenhum dedinho“, disse Bolsonaro, que não comparecerá à cerimônia de posse de Fernández.
A confirmação da ausência de Bolsonaro foi mal recebida por Buenos Aires e disparou um sinal de desinteresse de Brasília em manter uma relação afinada com o novo governo argentino. Na entrevista, o presidente brasileiro mencionou tópicos, como a intenção de Fernández em rever o Mercosul, mas não desenvolveu o tema nem indicou a posição do Brasil sobre o tema.
Também deixou claro seu desconhecimento sobre temas específicos da crise econômica do país vizinho. “O chefe do Banco Central deles (argentinos), ontem, teria falado em emitir dinheiro. Eu não sou economista, tá certo. Mas ouvi o Roberto Campos sobre essa questão”, afirmou, referindo-se a presidente da autoridade monetária do Brasil. “A Argentina está numa situação econômica complicadíssima”, completou Bolsonaro
Bolsonaro ressaltou o “sonho” de “uma passagem para o [Oceano] Pacífico”, em referência ao Corredor Bioceânico, projeto rodoviário que conectaria o litoral Atlântico do Brasil ao litoral Pacífico do Chile através do território argentino. “Depende do contato com eles [Argentina].”
O governo liberal do presidente Mauricio Macri representará a Argentina na reunião do Mercosul, visto que Fernández e sua vice e ex-presidente argentina, Cristina Kirchner, tomam posse apenas na terça.
O bloco sul-americano também é composto pelo Paraguai e pelo Uruguai. A Bolívia é considerada um “estado associado em processo de adesão”, como afirma a página oficial do Mercosul no Facebook. A participação da Venezuela no grupo foi suspendida em 2017 devido à “ruptura da ordem democrática”.