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Blinken: apesar de diferença, ‘troca com Lula não poderia ter sido melhor’

Secretário de Estado ressaltou divergência sobre comentário do presidente em torno da guerra em Gaza

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 Maio 2024, 17h04 - Publicado em 22 fev 2024, 17h29
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  • O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, chefe da diplomacia do país, afirmou nesta quinta-feira, 22, que a troca em Brasília com o presidente Lula “não poderia ter sido melhor” e que, em um cenário mais amplo, a visão do petista para desafios globais “é a mesma do presidente Joe Biden”.

    A fala do representante americano a jornalistas, feita pouco depois do segundo e último dia do encontro de chanceleres dos países do G20 no Rio de Janeiro, se dá apesar de uma crise diplomática entre Brasil e Israel, desencadeada por uma fala em que Lula comparou as ações militares israelenses contra os palestinos em Gaza ao Holocausto, que matou mais de 6 milhões de judeus durante o regime nazista de Adolf Hitler. “Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente brasileiro.

    + G20: Proposta brasileira de reforma da ONU é “muito boa”, diz chefe da UE

    “Temos diferenças em algumas questões, como essa questão (da comparação). Discordamos plenamente de Lula na questão, mas continuamos seguindo os trabalhos que temos juntos”, ressaltou. “Estamos de mãos dadas com o Brasil nos temas propostos”. 

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    Para o encontro, o Itamaraty traçou três tópicos principais:

    1. Inclusão social e combate à fome e à pobreza;
    2. Promoção do desenvolvimento sustentável, considerando-se seus 3 pilares: social, econômico e ambiental;
    3. Reforma das instituições da governança global”.

    Reforma de instituições

    Durante sua fala, Blinken reiterou também a necessidade de reformar instituições globais. O tema é uma das pautas principais defendidas por Brasília durante sua presidência à frente do bloco, que reúne as maiores economias do mundo.

    “Precisamos de instituições que reflitam como o mundo é hoje, e não como era quando foram criadas, há 80 anos”, disse. “Precisamos de instituições que respondam aos desafios de hoje em dia. E estamos liderando os esforços para expandir o Conselho de Segurança da ONU, tanto em membros permanentes quanto não permanentes”.

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    O Conselho de Segurança tem lutado para chegar a acordos nos últimos anos sobre questões importantes como a Coreia do Norte, Síria e a guerra em Gaza. Qualquer reforma exigiria uma alteração à Carta das Nações Unidas, o que poderia ser vetado pelos membros com assento permanente, cujos poderes para bloquear resoluções e sanções seriam diminuídos.

    “Nenhum país sozinho tem capacidade de lidar com esses problemas sozinho. mas quando nos juntamos para objetivos comuns, não há nada que não podemos fazer”, disse Blinken.

    Em entrevista recente às Páginas Amarelas de VEJA, a embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Frawley Bagley, afirmou que o tema foi levantado entre  Biden e Lula durante encontro no ano passado. “Biden disse que é o momento de expandir o Conselho de Segurança para América Latina, África e Oriente Médio. Eu acho que, a América Latina, as chances estariam com o Brasil, que é o maior país. Mas Biden não disse especificamente qual seria seu escolhido”.

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    O tema foi levantado também nesta quinta-feira pelo chefe da diplomacia da União Europeia. A jornalistas na reunião do G20, Josep Borrell disse que a proposta de reforma do Conselho de Segurança defendida pelo Brasil é “muito boa”.

    Segundo Borrell, há uma disparidade de poderes e o Conselho de Segurança não é mais “funcional”, à medida que os cinco membros do assento permanente têm poder de veto, mesmo que os demais adotem uma posição a favor de determinada pauta.

    “Não é apenas sobre as instituições, é sobre mudança de mindset. Nosso objetivo é fazer com o que nós temos funcione melhor, não necessariamente criando algo novo”, disse aos repórteres. “E, para isso, quanto mais players tivermos na mesa, melhor. Mudar as regras do que existe hoje é mais complicado”.

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    Rússia

    Além de Blinken, participou da reunião do G20 nesta semana o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. Os dois ficaram cara a a cara em um momento em que as relações entre Washington e Moscou estão bastante tensionadas. Além da guerra na Ucrânia, na qual os americanos tomaram partido do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, as tensões se elevaram na semana passada por conta da morte do líder opositor russo Alexei Navalny.

    Perguntado se teve alguma conversa com o russo, Blinken foi enfático:

    “Não, nenhuma conversa direta. Mas ouvi seu discurso e imagino que ele ouviu o meu”, disse.

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    Perguntado ainda sobre novas sanções contra o país, sobretudo após a morte de Navalny, disse apenas que é preciso “esperar”, mas que serão implementadas em breve.

     

    Antes da reunião do G20, Blinken já havia se reunido com Lula em Brasília. Depois do encontro, que durou 1h50, o petista disse que os dois conversaram sobre uma série de temas comuns à agenda de ambos os países, como a iniciativa pela melhoria da condição dos trabalhadores – lançada em conjunto com o presidente americano, Joe Biden – e a questão climática e da transição à uma economia com energia limpa. Mas também registrou que abordaram assuntos em que Brasília e Washington estão menos alinhados: as guerras na Ucrânia e em Gaza.

    Os dois foram acompanhados por pelo assessor especial para relações internacionais, o embaixador Celso Amorim, e pela embaixadora americana no Brasil, Elizabeth Bagley.

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