Em um trecho de um novo livro que será publicado nesta semana, o papa Francisco afirma que seu antecessor, Bento XVI, virou seu aliado quando se posicionou a favor de parcerias civis para casais do mesmo sexo. O pedaço da obra foi visto pela agência de notícias Reuters nesta terça-feira, 2.
Durante o pedaço divulgado, Francisco confirma a oposição da Igreja Católica aos casamentos LGBT+, embora afirme repetidamente que os casais do mesmo sexo têm o direito de ser protegidos pelas leis de união civil. Bento VXI, não era conhecido por seu simpático à causa.
No entanto, Francisco afirma que Bento o defendeu em um grupo de cardeais que se queixavam das “heresias” do papa sobre parcerias civis entre pessoas do mesmo sexo. A revelação foi feita no livro em espanhol “Papa Francisco. O Sucessor: Minhas memórias de Bento XVI”, baseado em entrevistas com o jornalista Javier Martinez-Brocal.
“Eles apareceram na residência dele para praticamente me levar a julgamento e me acusaram na frente dele de apoiar o casamento entre pessoas do mesmo sexo”, disse Francisco. Bento então “ajudou a distinguir as coisas” e disse aos cardeais que o que foi dito por Francisco “não era heresia”.
Em dezembro, uma decisão de Francisco chacoalhou a Igreja Católica: o pontífice chocou o Vaticano e deu o aval para que casais LGBTQIA+ recebam bênçãos de sacerdotes, defendendo que quem “procura o amor e a misericórdia de Deus” não deve ser sujeito a “uma análise moral exaustiva”. A declaração não caiu no esquecimento dos católicos ferrenhos, e foi alvo de novos comentários de Francisco em uma entrevista publicada em janeiro pelo jornal italiano La Stampa.
O papa negou de que há chances de um cisma entre católicos, os dividindo entre aqueles a favor ou contra a medida, e amenizou ao argumentar que a ideia é levantada por apenas uma parcela de grupos ideológicos inexpressivos. A permissão desagradou, em especial, os devotos do continente africano. Por lá, 32 países criminalizam a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo, com penas que incluem desde prisões até pena de morte.
Emitido em 18 de dezembro, o documento do escritório de doutrina do Vaticano foi baseado em uma carta que Francisco enviou a dois cardeais conservadores, dois meses antes. Ele ressalta, contudo, que as bênçãos não podem ser concedidas em rituais de casamento, até mesmo no cartório, ou em roupas associadas aos trajes matrimoniais.
Mesmo com o suposto avanço, o texto destacava que o casamento é um sacramento vitalício entre um homem e uma mulher. Mas pontua que as bênçãos, sob hipótese alguma, poderiam ser negadas. A publicação aproveita para definir o termo “bênção” nas Escrituras, de forma a embasar suas justificativas.
“Em última análise, a bênção oferece às pessoas um meio de aumentar a sua confiança em Deus”, apontou o documento. “O pedido de bênção, portanto, expressa e alimenta a abertura à transcendência, à misericórdia e à proximidade de Deus em mil circunstâncias concretas da vida, o que não é pouca coisa no mundo em que vivemos.”