Às vésperas da eleição de 2018, na qual americanos foram às urnas para escolher deputados, senadores e governadores, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, seguia uma campanha de condenação às caravanas de imigrantes que entravam em áreas do sul do país. Duas semanas antes da votação, o republicano reuniu sua secretária de Segurança Interna e funcionários da Casa Branca para afirmar que era preciso uma “ação extrema” para parar os imigrantes.
“Nosso Exército está sendo mobilizado na fronteira sul. Muitas tropas adicionais vindo. Não iremos permitir estas caravanas, que são feitas de alguns bandidos muito maus e membros de gangues, nos EUA”, escreveu Trump em uma publicação no Twitter pouco antes da eleição. “Nossa fronteira é sagrada, devem entrar legalmente. Deem a volta!”.
Our military is being mobilized at the Southern Border. Many more troops coming. We will NOT let these Caravans, which are also made up of some very bad thugs and gang members, into the U.S. Our Border is sacred, must come in legally. TURN AROUND!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) October 31, 2018
No entanto, no mesmo dia em que convocou seus funcionários, autoridades do alto escalão do Departamento de Segurança Interna se encontraram, em um evento distinto, com autoridades da agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA para sugerir o uso de uma “arma de microondas”, relatou o jornal New York Times nesta quarta-feira, 26. A arma de “raio de calor”, projetada pelo Exército, faria com que pessoas sentissem que suas peles estão queimando caso entrassem em contato com raios invisíveis.
A arma foi inicialmente desenvolvida como uma ferramenta para controle de multidões há duas décadas, mas foi abandonada por preocupações envolvendo sua eficácia e por questões éticas e morais. Segundo o jornal, duas autoridades que participaram da reunião em 22 de outubro de 2018 afirmaram que a sugestão para que o aparelho fosse instalado na fronteira surpreendeu as pessoas presentes, mesmo que pudesse satisfazer o presidente.
A então secretária de Segurança Nacional, Kirstjen Nielsen, disse a um assessor após o encontro que não autorizaria o uso do dispositivo, relatou o jornal, citando as autoridades.
Não se sabe se Trump foi informado sobre a sugestão do uso da arma de microondas. No entanto, a sugestão vai de encontro com outras considerações do governo para afastar a entrada de imigrantes, incluindo “espinhos” em muros na fronteira, além da sugestão de autorizar que agentes atirassem nas pernas de quem tentasse entrar ilegalmente no país.
Nielsen, que deixou o governo em abril de 2019, foi responsável por implementar a política de separação de famílias.
A separação familiar foi implementada a partir da política de tolerância zero adotada pelo governo Trump, na qual todos os que tentavam cruzar a fronteira de maneira ilegal seriam processados criminalmente. Com isso, os pais passaram a ser enviados a prisões federais, que não têm acomodações para menores. Depois de muitas críticas, o presidente americano assinou um decreto encerrando oficialmente a política.
A medida causou indignação dentro e fora dos Estados Unidos, principalmente após a divulgação de imagens e áudios de crianças imigrantes dormindo em jaulas e chorando.