Um tribunal da Arábia Saudita condenou uma mulher a 34 anos de prisão por ter uma conta no Twitter e seguir ativistas contrários ao regime saudita na rede social. Salma al-Shehab, de 34 anos, é doutoranda na Universidade de Leeds, no Reino Unido, e foi detida quando retornava para seu país, em uma viagem de férias.
De acordo com uma tradução dos registros do julgamento, divulgada nesta quarta-feira, 17, pelo jornal britânico The Guardian, a saudita, mãe de dois filhos pequenos, tinha sido inicialmente condenada a três anos de prisão pelo “crime” de usar a plataforma para “causar agitação pública e desestabilizar a segurança civil e nacional”.
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Contudo, a penalidade foi ampliada para 34 anos depois que um promotor público pediu ao tribunal que considerasse outros supostos crimes. As novas acusações incluem a alegação de que Shehab estava “ajudando aqueles que procuram causar agitação pública e desestabilizar a segurança civil e nacional, seguindo suas contas no Twitter” e compartilhando as publicações de opositores em seu perfil. Acredita-se que Shehab ainda possa buscar um novo recurso no caso após a decisão de segunda-feira 15.
A estudante voltou para a Arábia Saudita em dezembro de 2020, de férias, e pretendia levar seus dois filhos e marido para o Reino Unido, onde estava completando seu curso de doutorado. Lá, ela foi chamada para um interrogatório pelas autoridades sauditas e acabou presa e julgada por seus tuítes.
Segundo fontes ouvidas pelo Guardian, a estudante não se intitulava como uma ativista, nem na Arábia Saudita, nem no Reino Unido. Ela se descreveu no Instagram – onde tinha 159 seguidores – como higienista dental, educadora médica, estudante de doutorado na Universidade de Leeds e professora da Universidade Princess Nourah bint Abdulrahman, instituição de ensino superior feminina da capital saudita, e como esposa e mãe de seus filhos, Noah e Adam.
Em seu perfil no Twitter, a acadêmica tinha 2.597 seguidores e a maioria de suas publicações era de conteúdo pessoal como fotos de seus filhos pequenos.
Shehab às vezes compartilhava publicações de dissidentes sauditas que vivem no exílio, que pedem a libertação de prisioneiros políticos da monarquia do Oriente Médio. Ela também apoiava figuras como Loujain al-Hathloul, uma proeminente feminista saudita foi presa e supostamente torturada por lutar por direitos das mulheres.
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A sentença contra a estudante foi proferida semanas após a visita do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à Arábia Saudita. Algumas lideranças de direitos humanos alertaram que o evento poderia intensificar a repressão do regime do príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, a dissidentes e outros ativistas pró-democracia.
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A Organização Saudita Europeia para os Direitos Humanos condenou a sentença de Shehab, que disse ser a mais longa sentença de prisão já aplicada contra qualquer ativista. A instituição também observou que muitas ativistas foram submetidas a julgamentos injustos que levaram a sentenças arbitrárias e foram submetidas a “tortura severa”, incluindo assédio sexual.
O Twitter se recusou a comentar o caso e a possível influência de personalidades do reino sobre o empreendimento. Um dos maiores investidores da rede social é o bilionário saudita Prince Alwaleed bin Talal, que possui mais de 5% do Twitter por meio de sua empresa de investimentos, Kingdom Holdings.