Autoridades sauditas e houthis participaram de uma reunião inédita neste domingo, 10, para negociar uma proposta de paz no Iêmen, ao mesmo tempo em que estreitam as suas relações com o Irã, apoiador dos rebeldes locais. A ideia gira em torno de um cessar-fogo de no mínimo oito meses, em paralelo a negociações sobre o futuro do país. O conflito, que teve início em 2014, é considerado a pior crise humanitária do mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Juntos em público pela primeira vez, Mahdi al-Mashat, presidente do conselho político dos houthis, e Muhammad al-Jaber, embaixador saudita no Iêmen, se encontraram em Sanaa, capital iemenita controlada pelos rebeldes houthis. Apesar da ausência de representantes diretos do Iêmen, o governo disse não se sentir excluído.
O encontro é considerado um grande passo, já que o líder dos rebeldes foi considerado um dos 40 terroristas pelos quais a Arábia Saudita oferecia recompensas em troca de informações sobre o seu paradeiro, em 2017. Ali Qarshah chegou a render remunerações de US$ 5 milhões (cerca de 25 milhões de reais).
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Mediadores de Omã, monarquia absolutista no Oriente Médio, também participaram da reunião. De acordo com Hans Grundberg, enviado da ONU ao Iêmen, o país nunca esteve próximo da paz como após o encontro.
Possíveis disputas entre as lideranças, no entanto, acendem o sinal de alerta para a definição de um acordo de longo prazo. A incerteza sobre a confiabilidade dos houthis e as demandas separatistas no sul do país também dificultam a resolução.
Outra preocupação da delegação de Riad está voltada para tranquilizar o conselho que governa o Iêmen de que não foram abandonados depois de incentivar o diálogo com os considerados rebeldes.
Eles estabeleceram, ainda, um cessar-fogo entre de seis meses para gerar confiança entre os pólos para, enfim, iniciar um período de três meses de debate sobre a gestão da fase de transição, que durará dois anos. A solução final também será determinada pelas duas lideranças iemenitas.
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Além disso, funcionários públicos em áreas sob controle houthi serão pagos com receitas de petróleo e gás de campos do governo, assim como solicitado anteriormente, bem como o fim dos bloqueios nos portos em Áden, sem antes passar pelo controle dos sauditas, principais financiadores do governo no Iêmen.
Não é a primeira vez que a Arábia Saudita tenta estabelecer o fim da guerra civil. Em 2015, autoridades sauditas e de oito países árabes realizaram uma série de ataques aéreos em regiões controladas pelos houthis. Com apoio de Estados Unidos, Reino Unido e França, a tentativa de fortalecer o governo de Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi, então presidente do país, levou apenas a uma escalada do conflito.
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“A Arábia Saudita não é um mediador, mas uma parte do conflito, e não estamos prontos para negociar com ela novamente por meio de Rashad al-Alimi, que foi nomeado por ela, mas isso não substitui a necessidade de um diálogo iemenita”, afirmou o porta-voz dos houthis.
Com a ausência de uma imposição violenta do Irã, dos Emirados Árabes Unidos ou da Arábia Saudita, autoridades esperam que seja possível estabelecer um debate sobre a guerra civil do Iêmen desde que os Houthis capturaram Sana’a. Especialistas receiam, contudo, que a ideologia dos rebeldes seja um empecilho para a resolução final, já que não é popular para muitos iemenitas.