Os 32 brasileiros e familiares que foram resgatados da Faixa de Gaza, palco do conflito entre Israel e o grupo militante palestino Hamas, chegaram ao Brasil na noite desta segunda-feira, 13. Eles foram recebidos em Brasília pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira-dama, Janja da Silva, e uma comitiva de ministros e outras autoridades. O grupo de repatriados é formado por 17 crianças, nove mulheres e seis homens.
O avião da Força Aérea Brasileira (FAB) partiu do Cairo, no Egito, pela manhã e fez escala em Las Palmas, na Espanha, e, já em solo brasileiro, no Recife (PE), às 20h22. O voo chegou à Base Aérea de Brasília às 23h14.
Em Brasília, com Lula e Janja estavam o chanceler Mauro Vieira, Flávio Dino (Justiça), Nísia Trindade (Saúde), Silvio Almeida (Direitos Humanos), Paulo Pimenta (Comunicação Social) e Celso Amorim (assessor especial da Presidência).
Na Base Aérea, Lula também afirmou que o governo federal vai manter os esforços para trazer outros familiares dos 32 repatriados que tenham ficado na Faixa de Gaza, palco do conflito entre Israel e Hamas.
Diante do grupo, o presidente afirmou que o governo firma o “compromisso” de tentar a aprovação de uma segunda lista de interessados em vir para o Brasil. “Mesmo que seja nascido lá, que seja palestino de origem, a gente vai buscar. Se os parentes estiverem aqui e pedirem, a gente vai tentar trazer, é um compromisso que nós fizemos”, disse Lula.
Uma longa espera
O processo de resgate deu seus primeiros passos em 12 de outubro, cinco dias após o início do conflito, quando o governo brasileiro abrigou parte do grupo na escola Rosary Sisters, ao norte de Gaza. Na ocasião, Brasília avisou Tel Aviv de que seus cidadãos permaneciam no local, em uma tentativa de evitar bombardeios. Eles deixaram as instalações no dia 14, em um ônibus fretado pela representação brasileira em Ramala, na Cisjordânia, enquanto o restante permanecia no sul da cidade.
Segundo o Itamaraty, todos os integrantes receberam “auxílios frequentes” para a compra de “água potável, alimentos, gás, remédios”, ao passo que Lula mantinha telefonemas com autoridades dos Emirados Árabes Unidos, Israel, Palestina, Egito, França, Turquia, Irã, Catar e Conselho Europeu, em um “esforço diplomático”. Em meio ao trâmite, duas brasileiras, mãe filha, desistiram da repatriação por “motivos pessoais”, reduzindo o número de 34 para 32 solicitantes.
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O grupo recebeu, enfim, a autorização para cruzar a passagem de Rafah, que liga Gaza ao Egito, neste domingo, após 36 dias desde a eclosão da guerra, em 7 de outubro. Finalizada a travessia, eles foram transportados em vans fretadas pela Embaixada brasileira no Egito até a cidade egípcia de Al-Arish, onde fizeram uma pausa para o almoço e para visitar a praia. O comunicado do governo indica que chegaram no Cairo à noite, tendo recebido atendimento médico e psicológico.
Os repatriados seguiram viagem nesta manhã, acompanhados por diplomatas brasileiros. Eles decolaram do Aeroporto Internacional do Cairo às 6h42 no horário de Brasília. Parte da Operação Voltando em Paz, a vinda do grupo completa 1.477 passageiros e 53 animais domésticos resgatados, com 315 horas de voo, aponta o Ministério das Relações Exteriores. Ao todo, “150 militares e 37 profissionais de saúde (13 médicos, nove psicólogos e 15 enfermeiros) se envolveram na logística”.
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Próximos passos
Os resgatados serão acolhidos por uma ampla operação do Governo Federal. Além do apoio psicológico, os brasileiros e palestinos terão acesso aos serviços de abrigo, à documentação e à alimentação, bem como a cuidados médicos e imunização. Eles permanecerão dois dias na capital em uma estrutura da FAB.
“Há todo um esquema de recepção. Um sistema de apoio e acolhimento em que serão oferecidos identidade, permissão de trabalho, acesso ao Sistema Único de Saúde, à rede de apoio social para refugiados, além da regularização da situação de cada um”, adiantou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, numa coletiva de imprensa neste domingo.
“Alguns brasileiros já têm destino certo porque têm familiares aqui, mas uma parcela significativa, quase metade, não tem onde ficar. O Governo Federal já preparou, por meio do Ministério do Desenvolvimento Social, um local onde essas pessoas ficarão acolhidas no interior de São Paulo”, acrescentou o secretário nacional do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Augusto de Arruda Botelho.