Após cerca de 8 horas de chamas, bombeiros parisienses conseguiram salvar a estrutura da catedral de Notre Dame, em Paris, controlando um incêndio, nesta segunda-feira 15, que derrubou a flecha, o ponto mais alto do monumento, e reduziu a cinzas boa parte do telhado.
“O fogo está completamente controlado e parcialmente sufocado. Restam alguns focos residuais por apagar”, explicou Gabriel Plus, porta-voz dos bombeiros de Paris.
O presidente francês, Emmanuel Macron, prometeu “reconstruir” a catedral. “O pior foi evitado, embora ainda não tenhamos vencido a batalha totalmente”, acrescentou Macron, visivelmente emocionado, antes de agradecer aos bombeiros por terem salvo as duas torres e a fachada do monumento.
Era a notícia que toda a cidade aguardava há horas, com o coração na mão.
“O fogo diminuiu de intensidade”, declarou o secretário do Interior, Laurent Nuñez, muito aliviado. Pouco antes, havia dito que não estava certo de que pudesse “frear a propagação na torre norte”.
É desconhecida a origem do incêndio, declarado por volta das 18h50 locais (13h50 de Brasília) na parte superior da catedral e se propagou rapidamente para o telhado.
O fogo queimou o teto de madeira de mais de cem metros de comprimento, conhecido como “a floresta”, pelo grande número de vigas utilizadas para instalá-lo.
Os bombeiros afirmam que o incêndio está “potencialmente ligado” às obras e uma investigação judicial por “destruição involuntária” foi aberta. Os investigadores privilegiam a pista de incêndio acidental, iniciado no teto da catedral.
As chamas se propagaram rapidamente e uma enorme nuvem de fumaça, visível a quilômetros de distância, envolveu o monumento histórico mais visitado da Europa em plena Semana Santa.
Em pouco mais de uma hora, o fogo pôs abaixo a agulha de 93 metros de altitude, provocando um grito de horror na multidão que se aglomerava nas pontes do Sena e nas ruas vizinhas.
Com sua queda, desaparece parte da história da Cidade Luz. “Paris está desfigurada. A cidade nunca voltará a ser como antes”, lamentou Philippe, um francês de 30 anos.
“Tudo está sendo devorado pelas chamas. Não vai restar nada da estrutura, que data do século XIX de um lado e do XIII do outro”, disse o porta-voz da catedral gótica, André Finot, temendo o pior.
Ao redor de 400 bombeiros estão mobilizados com mangueiras após descartar o uso de aviões tanque para evitar que a pressão d’água provocasse o colapso do monumento.
A prefeitura de Paris pôs em andamento uma operação para salvar todas as obras de arte.
A coroa de espinhos e a túnica de São Luís, duas das relíquias mais importantes, estão resguardadas, segundo o monsenhor Patrick Chauvet, reitor da catedral.
Restaurar o edifício levará “anos de obras”, avaliou o novo presidente da Conferência Episcopal francesa, Eric de Moulins-Beaufort.
À noite, o magnata francês François-Henri Pinault, cuja família é proprietária de um conglomerado de marcas de luxo, anunciou que vai doar 100 milhões de euros para a restauração da catedral, anunciou em um comunicado à AFP.
“Meu pai (François Pinault) e eu decidimos desbloquear (…) uma quantia de 100 milhões de euros para participar da reconstrução completa de Notre Dame”, declarou François-Henri Pinault.
Notre-Dame acompanhou a história de Paris desde a Idade Média. Seus sinos anunciaram, em 24 de agosto de 1944, a liberação do jugo nazista, e 26 anos depois foi realizado o funeral do presidente Charles de Gaulle.
Por causa do incêndio, parte da Île de la Cité, bairro onde fica a catedral, foi evacuada. À noite, centenas de pessoas se reuniram para rezar na Pont aux Changes, em frente ao monumento.
“Estou muito triste, imensamente triste e vazio”, disse Stéphane Seigneurie, consultor de 52 anos, interrompendo suas orações. “Desde que moro em Paris, é um ponto de referência. Venho sempre […] É um lugar extraordinário que se mistura com a história da França”.
“É horrível que tenha acontecido, além de tudo o que Paris tem vivido recentemente”, afirmou Nathalie Cadwallader, de 42 anos, em alusão aos atentados que mortificaram a cidade com dezenas de mortos em 2015.
Informado da catástrofe, o presidente Macron cancelou o discurso previsto para anunciar medidas para a crise dos “coletes amarelos” e foi ao local do incêndio.
O templo, que recebe quase 13 milhões de visitantes por ano, é o monumento histórico mais frequentado da Europa e foi imortalizado por Victor Hugo em “O Corcunda de Notre-Dame“.
Revoltado com o estado inadmissível de conservação do monumento, Victor Hugo começou a escrever o romance em 1831, reclamando de sua deterioração.
(Com AFP)