Os aliados do presidente da França, Emmanuel Macron, estão divididos sobre um possível acordo entre sua aliança centrista com parlamentares de extrema-direita, ou se poderia trabalhar com eles apenas pontualmente, enquanto o líder reeleito busca estabelecer uma maioria no Parlamento após perder assentos nas eleições legislativas.
Alguns dos ministros de Macron bateram o pé para não trabalhar com a Frente Nacional de Marine Le Pen, que garantiu seu maior contingente de legisladores nas eleições e, com 88 assentos, agora é o segundo maior partido na câmara baixa do parlamento.
“Deixe-me ser absolutamente claro, não pode haver qualquer aliança, mesmo que circunstancial, com a Frente Nacional. Não temos ideias em comum com a Frente Nacional”, disse o ministro de Assuntos Europeus, Clement Beaune, à rádio Europe 1 nesta quarta-feira, 22.
Outros, como François Bayrou, um aliado próximo da centro-direita, foram menos intransigentes.
“Há pessoas à direita, à esquerda, no centro, nos extremos. Elas têm o direito de estar lá [no Parlamento], não há nada de ilegítimo. Temos que encontrar uma harmonia para que todas essas sensibilidades entrem na sinfonia que é democracia”, disse Bayrou em entrevista à rádio France Inter.
Na segunda-feira 20, Celine Calvez, legisladora da aliança Ensemble de Macron, disse à TV France 5 que a coalizão centrista pode fazer acordos pontuais com a Frente Nacional para aprovar alguns projetos: “Quando precisamos ter um maioria e se for bom para os franceses, tentaremos buscar esses votos.”
Depois das eleições legislativas, a França tem um raro caso de “parlamento pendurado”. A aliança centrista de Macron ficou 44 assentos aquém da maioria absoluta, e a extrema-direita e uma ampla aliança de esquerda estão lutando para ser a principal força de oposição.
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Macron ainda não comentou sobre a derrota eleitoral, mas encontrou-se com parlamentares moderados e da oposição na terça-feira 21 para tentar formar uma maioria viável de modo a conseguir governar e aprovar projetos.
A extrema direita tinha oito parlamentares na assembleia anterior, e nunca teve mais do que os 35 eleitos (em 1986), quando as regras eleitorais favoreciam partidos menores. Le Pen reiterou nesta quarta-feira que seu partido teria uma atitude construtiva.
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“Nós nos preparamos para isso há muitos anos”, disse ela, acrescentando que a Frente Nacional apoiaria as propostas políticas de que gosta, modificaria outras e rejeitaria as que não aprova – exatamente o que todos os principais partidos da oposição vêm dizendo desde as eleições legislativas no domingo 19.
Por enquanto, os partidos da oposição rejeitam qualquer forma de pacto de coalizão. Assim, a perspectiva mais provável é que Macron tenha que fazer negociações caso a caso sobre cada projeto de lei.