Um dia após se declarar culpado em um julgamento por cometer crimes de guerra na Ucrânia, o soldado russo Vadim Shishimarin, de 21 anos, pediu perdão a uma viúva ucraniana pela morte de seu marido. No tribunal, reunido nesta quinta-feira, 19, para segunda sessão, promotores também pediram a prisão perpétua do militar russo, o que indica que a Justiça local espera aplicar a penalidade máxima.
Shishimarin foi acusado de matar Oleksandr Shelipov, um civil de 62 anos, no nordeste da Ucrânia, na região de Sumy, de acordo com o gabinete da procuradoria-geral do país. Ele teria roubado um carro com quatro outros soldados enquanto tentava fugir de combatentes ucranianos e depois matar a tiros o civil desarmado, que estava em uma bicicleta.
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“Reconheço minha culpa. Peço que me perdoe, mas eu entendo que você não será capaz de me perdoar”, disse o soldado russo à viúva, Kateryna Shalipova.
O crime teria acontecido perto da casa da vítima e foi cometido usando uma AK-74. O caso foi apresentado a um tribunal criminal nesta semana e o acusado está sob custódia do governo ucraniano.
Na sessão desta quinta-feira, Shalipova detalhou que ouviu tiros no quintal de casa e chamou seu marido, quando viu Shishimarin com uma arma.
“Diga-me, por favor, por que vocês vieram aqui? Para nos proteger? Proteger-nos de quem? Você me protegeu do meu marido, a quem você matou?”, disse. “Eu corri para o meu marido, ele já estava morto. Tiro na cabeça”.
O caso está sendo preparado desde abril pela procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova
“Os promotores e investigadores do SBU [serviços secretos ucranianos] coletaram evidências suficientes de seu envolvimento na violação das leis e acordos de guerra. Por essas ações, ele pode pegar de 10 a 15 anos de prisão ou prisão perpétua”, afirmou uma autoridade da procuradoria-geral.
A Rússia nega que suas forças tenha cometido abusos e acusou Kiev de forjar crimes difamar seu exército. Para Moscou, serviços da inteligência dos EUA e do Reino Unido seguem ajudando a Ucrânia a forjar novas alegações falsas de supostos crimes de guerra cometidos no noroeste do país, embora não tenha fornecido nenhuma evidência.
Em relatório publicado no início de maio, no entanto, a organização de direitos humanos Anistia Internacional afirmou que há evidências concretas de que tropas russas cometeram crimes de guerra, incluindo execuções extrajudiciais de civis, nos arredores da capital ucraniana, Kiev, em fevereiro e março.
De acordo com a Anistia, civis também foram vítimas de “tiros imprudentes e torturas” cometidos por forças russas durante ocupação de cidades e vilarejos em torno da capital, incluindo Bucha, onde centenas de corpos foram encontrados em valas comuns, alguns deles com roupas civis e muitos com mãos atadas. A revelação da situação na cidade, em meados de abril, resultou na votação da Assembleia Geral das Nações Unidas pela suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos, sediado em Genebra, citando graves violações.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (Acnudh), que está revisando vídeos e materiais recebidos sobre a situação em Bucha, declarou que análises preliminares “parecem sugerir” um assassinato de civis de forma deliberada, de acordo com a porta-voz Liz Throssell.
Segundo Throssell, as imagens em que corpos aparecem com as mãos amarradas ou queimadas poderiam indicar que os agressores visavam deliberadamente essas vítimas, o que poderia elevar a gravidade dessas violações aos direitos humanos cometidas durante a invasão à Ucrânia, se os fatos forem confirmados.
“A alta comissária Michelle Bachelet já falou de possíveis crimes de guerra no contexto de bombardeios a infraestruturas civis, mas isso aparenta ser um assassinato direito de civis”, disse a porta-voz, que admitiu haver a necessidade de comprovar as imagens. “Em incidentes específicos, são necessárias análises forenses, monitoramento e coleta de informações, para determinar quem fez o quê”.