Acusado de conspirar contra seu meio-irmão, o rei Abdullah II da Jordânia, o príncipe Hamza bin Hussein afirmou nesta segunda-feira, 5, que não irá obedecer a proibição de sair de sua residência em Amã e não manter contato com o mundo exterior, anunciada no domingo pelo comandante do Estado-Maior do país.
A crise estourou no sábado com as acusações contra o príncipe Hamza, de 41 anos, de “atividades” contra o reino, além de prisões de várias personalidades do país. Embora Hamza não seja visto como uma ameaça direta ao rei, as ações sugerem que ele tenha intenção de ganhar o público jordaniano, após ter sido removido da linha de sucessão real e se tornado um crítico feroz à monarquia e ao governo autoritário.
O rei Abdullah II nomeou Hamza como príncipe-herdeiro em 1999, de acordo com os últimos desejos do pai antes de morrer. No entanto, retirou-lhe o título cinco anos depois, nomeando seu próprio filho, o príncipe Hussein, como herdeiro do trono.
Segundo as autoridades, as detenções de ao menos 16 pessoas foram detidas, motivadas por “razões de segurança”. O príncipe, que já estava sob investigação, havia se reunido com pessoas que tiveram contato com agentes estrangeiros em um complô para desestabilizar o país, importante aliado dos Estados Unidos, de acordo com o governo.
Em uma conversa por telefone, cuja gravação foi publicada domingo à noite no Twitter, o príncipe disse a um interlocutor não identificado: “Com certeza não acatarei (as ordens do comandante do Estado-Maior, general Youssef Huneiti), quando diz que não estou autorizado a sair, tuitar, comunicar-me com as pessoas e que só estou permitido a ver minha família”.
Em um vídeo publicado pela BBC no sábado, o príncipe lamentou “a incompetência que prevaleceu em nossa estrutura de governo nos últimos 15 a 20 anos e que está piorando”. Ele afirmou que “ninguém é capaz de falar ou expressar opinião sobre nada sem ser intimidado, preso, assediado ou ameaçado”.
Hamza também negou envolvimento em qualquer conspiração e confirmou a prisão domiciliar, com telefone e internet cortados, pelo chefe militar do país.
Em editorial, o jornal oficial Al-Rai afirmou nesta segunda-feira que o país “evitou um capítulo de agitação graças à experiência da liderança e dos serviços de segurança jordanianos”. O texto culpou Hamza, argumentando que “o rei tentou resolver alguns problemas dentro da família, mas seu desejo fraternal de resolver o problema não foi recebido positivamente”.
Ainda é incerto o motivo pelo qual o reino decidiu agir contra o príncipe. No entanto, ele já era alvo de debates por suas visitas nas últimas semanas a reuniões públicas onde o rei e figuras do governo eram criticados cada vez mais abertamente.
Tensões e críticas ao governo aumentaram desde que nove pacientes com Covid-19 morreram por falta de oxigênio em um hospital público recém-construído. Protestos contra corrupção e o caso do hospital foram dissipados com gás lacrimogêneo.
Em um ato que enfureceu o rei, Hamza visitou familiares dos mortos para expressar seus sentimentos.