A tempestade perfeita: tropas de Putin avançam na Ucrânia
Elas abriram uma frente de batalha no nordeste ucraniano, ansiosas por conquistar a segunda maior cidade do país, Kharkiv
A agressão da Rússia contra a Ucrânia parecia interrompida, desviada das atenções do mundo, em triste desdém, por uma outra guerra, entre Israel e Hamas. Na semana passada, contudo, o silêncio foi quebrado pelo horror. As tropas de Vladimir Putin abriram uma frente de batalha no nordeste ucraniano, ansiosas por conquistar a segunda maior cidade do país, Kharkiv. Pelo menos 8 000 pessoas fugiram de suas casas. Na quarta-feira 15, três aldeias já tinham sido engolidas, em desespero. As investidas obrigaram as forças de Kiev a recuar e admitir uma “vitória tática” do inimigo, eufemismo que mal esconde a derrocada. O presidente Volodymyr Zelensky, afeito a turnês para manter aceso o apoio internacional, cancelou as viagens. O momento é realmente crítico, resultado de uma tempestade perfeita. Houve um atraso na aprovação de 61 bilhões de dólares em auxílio militar dos Estados Unidos, escassez que ampliou a vantagem bélica dos invasores. Estima-se que, para cada bala disparada pelos ucranianos, os invasores atirem sete. O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, chegou a admitir, em Kiev — onde se exibiu em constrangedores riffs de guitarra em um bar barulhento —, que a “demora teve um preço”. Há ainda um problema de contingente militar. Zelensky custou a aprovar uma nova lei de convocação de jovens, essencial para encorpar um exército pequeno e envelhecido — muitos soldados têm mais de 40 anos de idade. Os próximos dias serão fundamentais e terríveis.
Publicado em VEJA de 17 de maio de 2024, edição nº 2893