Photobomb, em inglês, é a expressão usada para designar a arte de arruinar uma selfie alheia, dando um jeitinho de aparecer de surpresa no enquadramento. Foi o que fizeram, graciosamente, as irmãs gorilas Ndakazi e Ndeze, de 12 ou 13 anos não confirmados, ilustres moradoras do Parque Nacional Virunga, na República Democrática do Congo. Elas demonstram naturalidade ao aparecer, em pé, vaidosas, bem atrás do guarda Mathieu Shamavu (há um outro colega de trabalho ao fundo). Ambas miram a lente do smartphone. Não demorou nadinha para que a foto viralizasse no Instagram, porque é assim que funciona. As duas imitam, claramente, o autor do disparo. Intimidade com ele não lhes falta: foi Shamavu quem as salvou, ainda filhotes, quando a mamãe gorila foi assassinada por caçadores, em 2007. Não é incomum gorilas ficarem de pé e imitarem humanos, e a razão desse comportamento está na ancestralidade: 98,4% de seu DNA é idêntico ao dos humanos. O episódio, deflagrado com humor, virou coisa séria. Imediatamente, montou-se um grupo de ajuda financeira para o parque, situado na fronteira com Uganda — só no ano passado, cinco profissionais da floresta foram assassinados tentando proteger os primatas. E não demorou, num rastilho de esperança, para o Congo também virar tema nas redes sociais — o país é um dos dez mais pobres do mundo. Vive-se ali uma crise profunda, com milhões de cidadãos (a população é de 65 milhões de pessoas) ensaiando fugir da perseguição religiosa contra os cristãos e da fome. E tudo começou com uma ingênua selfie.
Publicado em VEJA de 1º de maio de 2019, edição nº 2632
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