Após mais de um ano de intensos confrontos, o governo de Israel aprovou, nesta terça-feira, 26, um acordo de cessar-fogo com o Hezbollah, mediado pelos Estados Unidos e pela França. O acordo, que entra em vigor nesta quarta-feira, 27, busca restaurar a paz no sul do Líbano, com base na Resolução 1701 da ONU, adotada à última guerra entre as forças israelenses e a milícia libanesa. A trégua prevê a retirada das tropas israelenses da região e a instalação do exército libanês, com o apoio das forças de paz da ONU.
Embora o acordo de cessar-fogo seja um avanço importante, ele vem acompanhado de condições. A ONU será responsável por monitorar a implementação da Resolução 1701 e aplicar penalidades em caso de violações.
Israel, por meio de seu ministro da Defesa, Israel Katz, reiterou o direito de agir contra “ameaças iminentes”, o que levanta dúvidas sobre a durabilidade do cessar-fogo. Além disso, as autoridades israelenses exigem que a resolução seja implementada de forma estrita pela ONU, o que poderá afetar a sustentabilidade do acordo.
Resolução 1701
A relação entre Israel e o Líbano é marcada por décadas de conflitos. Em 1982, após ataques de militantes palestinos, Israel invadiu o Líbano e ocupou o sul do país, onde permaneceu por quase 20 anos. Em 2000, o Hezbollah, com apoio do Irã, conseguiu expulsar as tropas israelenses da região.
Nesse período, a ONU criou a Linha Azul, que delimitou a área da retirada israelense e passou a ser considerada a fronteira de fato entre os dois países. Apesar disso, o Líbano ainda contesta a ocupação das Fazendas Shebaa, uma área de 39 quilômetros quadrados. Israel, por sua vez, argumenta que a área é parte das Colinas de Golã, anexadas de forma controversa da Síria.
Em 2006, a ONU adotou a Resolução 1701 com o objetivo de estabilizar a região após a guerra devastadora entre Israel e o Hezbollah. A resolução exigia a retirada de tropas israelenses do sul do Líbano e a presença de forças libanesas e de paz da ONU na área, ao longo do Rio Litani. Durante quase duas décadas, a medida ajudou a evitar novos conflitos, até que, em 2023, a escalada de tensões com o Hamas e o apoio do Hezbollah à Palestina reacenderam os confrontos.
Impactos do cessar-fogo
Quando o cessar-fogo for efetivo, o impacto será profundo. O Líbano, devastado pelos ataques aéreos israelenses, precisará de ajuda internacional para reconstruir sua infraestrutura e lidar com as mais de 3.750 vítimas fatais. Por outro lado, Israel enfrentará desafios internos, como garantir a segurança das suas fronteiras e permitir o retorno de cerca de 60 mil cidadãos deslocados pelos constantes ataques do Hezbollah às suas casas, no norte do país.
A liberdade operacional do exército israelense na região continua sendo um ponto controverso, com algumas autoridades afirmando que este é um aspecto não negociável.
Apesar da conquista diplomática, Israel intensificou seus ataques aéreos em Beirute nesta terça-feira. Além disso, não há sinal de que uma trégua no Líbano possa acelerar um cessar-fogo em Gaza, que continua devastada. O futuro ainda é incerto, e a grande dúvida é se esse acordo vai realmente trazer paz ou se será apenas mais uma pausa temporária no longo histórico de conflitos.