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Os cachorros são — mesmo — os melhores amigos das crianças

Pesquisa científica mostra que, além de fonte de amor, cães de estimação são aliados no desenvolvimento emocional de jovens entre 2 e 5 anos

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h55 - Publicado em 17 jul 2020, 06h00
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  • Pais e mães, preparem-se: as crianças ganharam um forte aliado da ciência para argumentar que ter um cachorro é, sim, de extrema importância para a família — mas, acima de tudo, para elas próprias. Um estudo realizado por cientistas da University of Western Australia (UWA) provou que jovens que convivem com cães apresentam melhor desenvolvimento emocional do que aqueles que não tiveram essa oportunidade. Em outras palavras: o cachorro da família pode ser um parceiro indispensável na criação dos filhos. De acordo com a pesquisa, crianças de 2 a 5 anos que mantêm fortes conexões com bichos de estimação demonstram menos problemas de comportamento do que seus pares. Entre outras conclusões, o estudo mostrou que elas têm 34% mais chance de apresentar comportamento pró-social. Além disso, levar o animal peludo para passear e brincar são atividades que estimulam habilidades sociais positivas e contribuem para a saúde física das crianças. Segundo o estudo australiano, os mais novos que saíram para passear com o cachorro da família acumularam, em média, 29 minutos a mais de atividades físicas por semana do que as crianças sem pet. Trata-se de uma excelente notícia para milhões de brasileiros: com 54,2 milhões de caninos, o país tem a quarta maior população pet do mundo.

    Para a terapeuta ocupacional Juliana Lacerda, a pesquisa chama atenção por se concentrar em uma faixa etária bastante específica. “A investigação aconteceu no pico do desenvolvimento da cognição social”, diz a especialista. “Quando a criança interage com alguém da mesma idade, ela aprende a desenvolver estratégias, e o cachorro entra como um recurso para aprimorar essas habilidades.” As vantagens, porém, não se restringem às experiências vividas na fase pré-escolar. A convivência com cães pode trazer benefícios que serão úteis também na vida adulta. “O melhor desenvolvimento da cognição na infância diminui a possibilidade de comportamento de risco, como abuso de substâncias químicas, e aumenta o sucesso em relacionamentos pessoais e de trabalho”, afirma Juliana. Outro estudo científico realizado recentemente evidenciou que a convivência intensa entre crianças a partir dos 8 anos e animais de estimação gera efeitos benéficos que se alastram pelo menos até a fase da pré-adolescência. Também há pesquisas sérias que concluíram que a competência social na vida adulta e a autoestima elevada estão associadas à presença canina antes dos 6 anos de idade ou após os 12.

    A pesquisa da University of Western Australia avança ao mostrar os impactos dos cães na vida das crianças em uma fase em que elas estão desenvolvendo atributos que ficam para sempre — desde habilidades motoras, conquistadas inclusive na interação física com os animais, até emocionais. O curioso é que o estudo trata especificamente de cachorros. Gatos não foram avaliados, embora outras pesquisas tenham detectado que os bichanos ajudam no desenvolvimento de noções de responsabilidade. Em geral, estudos científicos nessa área priorizam cães por uma razão simples: graças à sua personalidade, eles costumam interagir mais com os humanos. Para Elisa Leão, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Psicossociais sobre Desenvolvimento Humano da Universidade Mackenzie, a fase entre 2 e 5 anos é a ideal para o primeiro contato com os animais de estimação. “A maturidade motora surge quando a criança aprende a se equilibrar e a reconhecer o animal como um integrante da família”, diz Elisa. “A interação é positiva, porque as crianças acabam desenvolvendo empatia nesse processo.” Em um mundo cada vez mais polarizado e intolerante, ter empatia é uma qualidade que pode ser bastante rara.

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    Ao mesmo tempo que a convivência com um animal de estimação é repleta de vantagens, há o outro lado da moeda que não deve ser desprezado. “Quando os bichos desaparecem ou morrem, eles contribuem para o primeiro contato com o luto”, explica a especialista do Mackenzie. “Isso pode ser o gatilho para o surgimento de doenças como ansiedade ou depressão.” Casos raros de agressão praticada por cachorros, como ataques e mordidas, desencadeiam fobias em pessoas mais sensíveis. Relatos mostram que traumas negativos provocados por cães às vezes duram até a vida adulta. Por isso, a convivência com os animais deve ter como base o equilíbrio — não deixar a criança ser dependente demais do ponto de vista afetivo nem permitir a construção de uma relação baseada no medo. “O cão é excelente companhia, mas trata-se de um animal e é preciso impor limites”, avisa Elisa. Isso, inclusive, ajuda no aprendizado das crianças, que passam a entender que nem tudo na vida é permitido. Outro aspecto a ser considerado na relação entre homens e bichos de estimação é a responsabilidade que as pessoas assumem ao ficar com um pet. Cachorros são fofos, mas dão trabalho, consomem recursos, precisam ser levados com frequência ao veterinário. Crianças devem entender desde cedo que brincar com os companheiros de quatro patas é bom, mas cuidar corretamente deles também é fundamental.

    Publicado em VEJA de 22 de julho de 2020, edição nº 2696

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