A favela do Jacaré é um dos mais ferozes campos de batalha das quadrilhas que disputam poder e território no Rio de Janeiro. Pois nesse cenário violento floresce a Escola Municipal Rio de Janeiro: a instituição está entre as melhores escolas públicas do Brasil, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Não que não tenha problemas. Só neste ano, passou onze dias fechada, sem falar nas muitas ocasiões em que as aulas foram interrompidas por barulho de tiros (em uma das janelas, o vidro estilhaçado ainda não foi trocado) ou nas situações em que tiroteios impediram os estudantes de chegar ao colégio.
A responsável pela façanha de manter a qualidade em ambiente tão hostil, garantindo bom ensino a 289 alunos entre o 7º e o 9º anos, é a diretora Flávia Rezek. Nascida no Méier, na Zona Norte carioca, Flávia começou a trabalhar no colégio como coordenadora pedagógica em 2012, um ano após a inauguração do Programa Ginásio Experimental Carioca, que determinou que todas as unidades do município funcionassem em período integral – e esta, diz Flávia, é a chave do sucesso da Escola Municipal Rio de Janeiro. “Nossos professores passam o dia inteiro com os alunos. Acompanhamos a vida de todos eles de perto e temos reuniões semanais para conversar sobre cada sala. Nem nos momentos de estudo eles ficam sozinhos”, diz ela, que adicionou todos os professores, alunos e pais à sua página pessoal no Facebook e ao seu perfil no WhatsApp.
Flávia, que é filha de professores e formada em psicologia, tem presença marcante quando caminha pelo colégio durante o recreio, e é parada a cada passo pelos alunos, sempre com demonstrações de afeto. “Eles me contam sua vida. Já cheguei a intervir em namoros e saber de segredos pessoais antes dos pais. Esse acompanhamento humano faz toda a diferença no resultado pedagógico”, orgulha-se. A proximidade com o tráfico de drogas não afeta o desempenho dos estudantes — segundo a diretora, a escola nunca teve problemas com entorpecentes. “Eu sou durona. Proíbo até batom. Mas faço questão de explicar o motivo de todas as minhas decisões”, diz a diretora. Diante das dificuldades, Flávia, que é mãe de dois meninos, um deles ex-aluno da escola, admite que já pensou em sair do Rio por causa da violência, mas voltou atrás. “O que me move todos os dias é a esperança de dar a essas crianças um futuro melhor. Encontrar um ex-aluno bem encaminhado é minha maior satisfação”, afirma. Sorte dos alunos.
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