Ufa: o triatlo não virou ‘duatlo’ em Paris
Até os últimos momentos, havia dúvida se o rio Sena estaria apto para a prova da natação
Na bolsa de apostas olímpicas, a maioria achava que a prova de triatlo viraria “duatlo”. Com o Sena sujo depois do aguaceiro que desabou sobre a cidade, a questão fazia sentido. Mas as o circuito completo da modalidade – natação, ciclismo e corrida – foi preservado. E nesta quarta-feira 31 deu-se o histórico mergulho no rio sobre o qual todo mundo se pergunta: mas está limpo mesmo?
Como nos últimos dias não estava, houve o adiamento de dois treinos que seriam ali e das próprias competições, masculina e feminina, que aconteceriam na véspera, terça-feira, para aflição dos atletas e das autoridades que têm no Sena o grande cartão-postal dos Jogos.
Foi apenas a quatro horas do circuito feminino que as autoridades bateram o martelo: sim, o rio estava próprio para banho, sem a concentração de bactérias revelada nos testes anteriores.
Na ornada ponte Alexandre III, com a vista do Grand e do Petit Palais de um lado e da Torre Eiffel do outro, as primeiras a pular foram as mulheres, depois vieram os homens. Uma multidão se aglomerou nas imediações da ponte, até onde dava para ir. “Será que o rio está limpo memso?”, perguntava, justificadamente, o parisiense Thomas Durand, 36 anos, habituado a ver aquelas águas como lugar onde é melhor nem por o pé.
PARA ENTRAR NO ÁLBUM
O mergulho de hoje é uma virada para o Sena, onde o banho é vetado há pouco mais de um século, desde 1923. Mesmo antes, já era um curso d’água imundo, para onde eram arrastados detritos in natura quando chovia.
E não era pouca sujeira, não. Com a industrialização do século XIX para o XX, o Sena virou uma espécie de lixão, já que o antigo sistema de esgotos de Paris não dava conta de tratar a imensidão de dejetos e ia tudo parar lá.
Então o que dizem sobre o rio aquelas fotos de 1900, a primeira das três olimpíadas parisienses, com os atletas mergulhando à vontade? A verdade por trás da imagem é que ele já não estava, à época, próprio para banho, mas mesmo assim as provas de natação foram lá.
DÁ PARA ACREDITAR?
A resposta é sim, mas com ressalvas.
Para os Jogos, 1,4 bilhão de euros foram destinados a melhorias que, no conjunto, tornam o Sena balneável. Construíram um super tanque capaz de armazenar o equivalente a 20 piscinas olímpicas e atacaram tubulações clandestinas que faziam o rio mais sujo ainda. Também as embarcações estão se tornando menos poluentes, tendo que se adaptar a um rígido protocolo verde.
O enrosco é que, quando chove além da conta, o piscinão não consegue represar toda a água, e uma parte vai parar onde sempre parou: no Sena.
Por isso, durante e depois da Olimpíada, a qualidade da água terá de ser diariamente aferida. O plano é que os parisienses tenham no rio o seu próprio mar em 2025, quando, se tudo der certo, alguns trechos estarão liberados.
Por ora, tudo é sorrisos e flashes. A prova feminina deu o ouro para a francesa Cassandre Beaugrand, que, como as outras, nadou 1 500 metros, pedalou quarenta e correu 10, acompanhada por uma plateia que se acotovelava para conseguir um bom ponto em cenários que têm como moldura, por exemplo, o Arco do Triunfo.
Agora, é olhar todo dia para o céu e torcer para que a meteorologia conspire a favor da festa.