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Rebeca Andrade: a menina de ouro

Na derradeira batalha com Simone Biles, a grande, a brasileira levou pela primeira vez a melhor, coroando uma Olimpíada espetacular

Por Monica Weinberg, de Paris
5 ago 2024, 12h28

Uma prova depois da outra, até aqui havia sido Simone a dona absoluta do ouro, três deles. E o destino inexorável de Rebeca Andrade nessa Olimpíada parecia ser o de vice, sempre com a prata, diante de uma americana precisa, inabalável, cravando notas altas com aquela facilidade dos muito acima da curva. Mas esta segunda-feira 5, que já entrou para a história olímpica brasileira pelo ineditismo e a superação que envolveu, era dia de Rebeca, a menina que voou de Guarulhos para pisar firme nos tablados do mundo e levar o ouro no solo em Bercy.

A agora detentora da medalha dourada, que é míope e mal enxerga o placar, se movimentava, entre inquieta e sorridente, como que não acreditando na merecida virada na lógica de todos os últimos embates travados naquela arena. Simone contabilizava seus ouros e Rebeca, duas pratas e um bronze. E tudo indicava que assim a vida seguiria o seu curso. Não seguiu.

Foi uma apresentação precisa e graciosa no solo, marca registrada de Rebeca, que a alçou ao topo logo no começo. Porém (tum-tum-tum, esta a trilha sonora na arena) faltava Simone, uma das últimas a entrar em cena. E ela veio com tudo, em potência máxima, mas, ops, pisou fora do tablado uma, duas vezes. Acerto de uma, erro da outra, e o ouro desta vez ficou com Rebeca. “Fiz o meu trabalho, e estava leve, feliz, sem medo”, contou. “A questão nunca foi vencer a Simone, mas a mim mesma.”

No esporte, as casas decimais que os demais mortais costumam arredondar para facilitar a conta balizam trajetórias. Hoje, a diferença foi de 0,34 décimos entre as duas ginastas que o tempo todo mobilizaram as atenções em Bercy. A cena de Rebeca no alto e Simone em patamar mais baixo chocou o olhar pelo inesperado. Hino do Brasil tocado, tanto Simone como sua colega de equipe, Jordan Chiles, que levou o bronze, fizeram uma bela reverência à vencedora da tarde, daquelas imagens para ficar. “Uma honra”, agradeceu Rebeca.

CHATEADA, EU?

Mais tarde, perguntaram a Simone se ela estava triste, chateada. “Eu, chateada? Como assim? Ganhei quatro medalhas.” E se estendeu sobre Rebeca: “Ela é incrível, me faz sempre puxar a barra para cima, tentar ser ainda melhor”, disparou nas palavras, veloz, os olhos marejados. “Vamos ver o que ela ainda nos reserva, e vai ser muito. Já é uma lenda.”

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Muito impulsionada pelo fenômeno Biles, a ginástica lotou todos esses dias as arquibancadas com um tipo de público que cobre o corpo com bandeira e solta gritos vigorosos a cada salto ou giro. Os que mais se ouviram foram “Simone, Simone!”, vindos de uma arquibancada cheia de celebridades ali para vê-la, como Steven Spielberg, Spike Lee, Nicole Kidman, uma lista longa. Mas também Rebeca ascendeu em Paris. Anunciavam o seu nome, e ele ecoava na arena, com sotaques os mais variados – “RRRRRebeca”, com muitos erres, é o modo francês.

Muitas vezes, parecia que eram só elas, Simone e Rebeca, as competidoras, embora houvesse outros talentos nos tablados. Na prova da trave, que veio pouco antes, as duas eram ovacionadas – mesmo tendo saído sem medalhas neste que não é o aparelho favorito de nenhuma delas. Do começo ao fim, esta Olimpíada foi embalada pela “extra-terrestre” Simone, como a brasileira se refere a ela, e pela “excepcional” Rebeca, como a americana outro dia falou.

“VIREI GIGANTE”

Em suas declarações pós-medalhas, Rebeca, aos 25 anos, pareceu cabeça feita. No dia do salto, chegou a considerar a execução de uma pirueta tripla que já viria com nome e tudo – “Andrade”. Mas, no xadrez em que cada escolha é cuidadosamente calculada, achou que não valia o risco. O prêmio poderia ser alto, mas a queda profunda. Queria garantir a medalha, e conseguiu. “Senti que ainda não era a hora, mas vou fazer esse salto um dia. É muito legal”, falou ao seu estilo sem firulas nem pompa, direta e simples.

Outro dia, ao refletir sobre seu avanço nos tablados, se revestiu, sem nariz empinado, natural, de uma segurança que aflorou em Paris. “O Ayrton Senna inspirou muita gente. Percebo que isso começa a acontecer comigo. Estou ficando gigante”, falou a menina de 1,55 metro.

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O ouro de hoje se soma às duas pratas que ela já conquistou em Paris, mais um bronze, fincando seus pés na história: tornou-se a única brasileira a acumular quatro pódios em sequência. Com os de Tóquio, são seis ao todo, outro recorde. Não há dúvida de que essa Olimpíada situou Rebeca no epicentro da ginástica e a firmou como uma atleta de envergadura internacional, que as colegas já conhecem muito bem, e respeitam.

Rebeca, e também Simone, deixaram pairar uma dúvida sobre as próximas piruetas que darão na vida. Simone, que tinha sinalizado um basta, já andou dizendo que quem-sabe-talvez participe dos próximos Jogos, em Los Angeles. Rebeca conta que quer ficar mais seletiva (“o solo é exaustivo, prefiro não fazer mais”), mas tudo vai depender. É torcer para que haja mais duelos como este.

No fim da festa, uma garotinha fantasiada de Estátua da Liberdade, que comprava com a mãe um copo de refrigerante pelo equivalente a estratosféricos 40 reais, ainda na zona da arena, resumia bem o espírito em Bercy: “Eu sou Simone Biles, USA, mas amo a Rebeca. Ela voa muito!” E voa longe.

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