Novak Djokovic, um dos tenistas mais talentosos da história, deu a sua maior bola-fora, e justamente quando poderia se consagrar como o maior de todos. Empatado em títulos de Grand Slam (vinte) com Roger Federer e Rafael Nadal, o número 1 do mundo queria se isolar como recordista no Aberto da Austrália, mas deixou o país pela porta dos fundos, deportado. Na direção oposta à ciência, ele vem colecionando trapalhadas na pandemia. Organizou um torneio com público em sua terra natal, no qual abraçou até crianças. Resultado: vários contaminados, incluindo ele próprio. Sempre se mostrou contrário à obrigatoriedade da vacina e se negava a revelar se havia se imunizado. Diante da exigência, admitiu: não se protegeu, mas fez de tudo para burlar as leis e buscar o décimo troféu em Melbourne. O vexame teve início no dia 5, quando desembarcou com uma exceção médica aprovada pelo torneio. A imigração local resistiu. Deu-se um enorme conflito diplomático. Djoko ficou em um hotel para imigrantes ilegais, obteve recurso, chegou a treinar, mas foi vencido pela decisão final da Corte. Para piorar, “Novax Djocovid” (os apelidos foram inevitáveis) admitiu um erro no preenchimento do formulário de viagem e que desrespeitou o isolamento após testar positivo. Não há desculpas: foi um papelão completo diante de uma doença que matou mais de 5 milhões de pessoas no mundo. Roland Garros já avisou que sem vacina ele não pisa em Paris. Aos 34 anos, Djokovic deve alcançar, mais cedo ou mais tarde, o recorde que tanto busca. Limpar a pecha de negacionista será bem mais complicado.
Publicado em VEJA de 26 de janeiro de 2022, edição nº 2773