O lance de futebol que foi proibido para crianças menores de 12 anos
A Ifab, entidade que estabelece as regras do esporte, anunciou recomendação para reduzir risco de concussões
A International Football Association Board (Ifab), associação que estabelece as regras do futebol, enviou a confederações nacionais nesta quarta-feira, 17, uma recomendação para que jogadores das categorias de base de até 12 anos sejam proibidos de cabecear a bola durante treinos e partidas. A mudança segue recomendações médicas a fim de reduzir, à curto ou longo prazo, as concussões, lesões cerebrais causadas por pancadas na cabeça.
O comunicado (clique aqui para ler na íntegra, na versão em espanhol) sugere o veto ao “cabeceio intencional” em jogadas de partidas da categoria sub-12 e inferiores. Os árbitros das partidas receberão orientação para paralisar o lance e assinalar falta, com tiro livre indireto, sem punição com cartão.
A International Board ressaltou que jogadas áreas geram riscos de choque não apenas com a bola, mas com a cabeça de adversários e com a trave, e que a preocupação é maior com as crianças, pois “seu corpo, seu cérebro e suas habilidades motoras ainda estão em desenvolvimento e talvez não tenham a força física nem a experiência necessária para minimizar possíveis riscos.”
Oficial:
IFAB proíbe jogadores até 12 anos cabecear a bola.
Se cabecear será falta.
Recomendação médica.
Futebol mudando para proteger a saúde. pic.twitter.com/YCb2lEjQTW— Salvio Spinola (@SalvioSpinola) August 17, 2022
A medida já havia sido aplicada de forma experimental em treinamentos e ligas infantis dos EUA, da Inglaterra, de países nórdicos e da Argentina, e agora deve ser seguida em todo mundo. Os campeonatos que adotarem a medida devem enviar relatórios a Ifab, que dará sequência aos estudos, e, em última medida, pode vir a alterar normas envolvendo cabeçadas em torneios profissionais.
O cabeceio é uma ação comum e quase inevitável nas jogadas em campo. Serve como passe, gol e desarme. No entanto, a ciência tem mostrado o impacto dessa ação na saúde de ex-atletas. Os debates já ocorrem há alguns anos em esportes como boxe, futebol americano e hóquei no gelo, e agora chegaram também ao futebol.
Estudos recentes apontam que os jogadores que recebem pancadas na cabeça repetidamente ao longo dos anos têm maior probabilidade de doenças degenerativas no cérebro. Atualmente, em competições oficiais no Brasil e no exterior recomenda-se aos árbitros que em jogadas em que atletas sofram pancadas de cabeça o jogo seja interrompido.
Em 2019, um estudo obtido por VEJA revelou que as pancadas na cabeça em disputas no alto, comuns nos cruzamentos para a grande área, produzem sequelas, embora sutis. A mais grave delas é a encefalopatia traumática crônica (ETC), que altera a memória e a cognição, distúrbio neurológico derivado de pancadas sucessivas e repentinas, como as das partidas da NFL e do boxe.
A reportagem mostrou que uma lenda do futebol brasileiro foi vítima de concussão: o zagueiro Hideraldo Luís Bellini (1930-2014), o vascaíno conhecido pela raça dentro de campo, o primeiro brasileiro a erguer a Jules Rimet, em 1958. Durante dezesseis anos, até sua morte, em 2014, ele foi tratado como se tivesse Alzheimer. Exames posteriores identificaram a ETC, fruto do choque com outras cabeças — houve quem desconfiasse do contato frequente com bolas mais duras, as do passado, feitas de couro e que se encharcavam em dias de chuva, possibilidade depois descartada. O ruim mesmo é bater osso com osso.
Os Estados Unidos, permanentemente interessados no tema, foram os primeiros a adotar maior cautela no futebol. Por lá, as crianças com menos de 11 anos não podem dar cabeçadas na bola desde 2015, conforme as normas da Youth Soccer, organização que supervisiona as ligas de futebol para crianças e adolescentes.
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