‘Nosso judô nunca foi tão longe’, diz o campeão Rogério Sampaio
Um dos grandes nomes brasileiros dos tatames falou a VEJA logo depois do fenomenal ouro de Beatriz Souza
Foi um dia de tensão de alta voltagem para Rogério Sampaio, que assistiu à toda a batalha que se desenrolou nos tatames da arena armada no Champs-de-Mars, em Paris. O ápice fez-se quando Beatriz de Souza bateu, de forma surpreendente, a número 1 do ranking mundial, a francesa Romane Dicko, com o presidente Emmanuel Macron na plateia e tudo. Assim, subiu um degrau improvável, chegando à final contra a israelense Raz Hershko e levando o seu ouro.
Para Rogério, esta sexta-feira 2 virou um daqueles instantes que demarcam um ponto na história. “Já é o melhor resultado do judô brasileiro em olimpíadas”, diz o hoje chefe da missão olímpica e detentor, ele também, de uma medalha dourada que ganhou em 1992, quando a modalidade, dona da maior coleção de pódios nos Jogos, começava a deslanchar. Ainda ofegante, ele deu a VEJA a seguinte entrevista, com os olhos já na competição do dia seguinte, a decisão por equipe mista.
Qual foi o trunfo de Beatriz numa luta em que a vitória era tão inesperada?
Ela não teve medo. Diria que a maioria ficaria intimidada diante da número 1 do mundo e de uma plateia 99% francesa, incluindo até o presidente. Mas Beatriz, não. Ela revelou uma força inacreditável e se impôs.
O que esse ouro, mais a prata e o bronze já conquistados em Paris, sinalizam sobre o judô brasileiro?
O que estamos vendo é o resultado de um trabalho longo que tem uma virada lá atrás, em 1972, quando a primeira medalha em Olimpíada pôs o país no mapa internacional do judô. Desde 1984, não houve Jogos em que o Brasil não tenha subido ao pódio.
Falta chão?
Falta. Não há dúvida de que temos que seguir investindo, formando técnicos, evoluindo. Num cenário tão competitivo, não dá para parar.
Na época em que ganhou seu ouro, por que tipo de aperto os atletas passavam?
Eu fui competir na Espanha com quimono empestado. Imagine o que é isso. A gente pagava a viagem do próprio bolso, fazia vaquinha, e ainda treinava em tatame de palha quando o do circuito internacional é o sintético. Um sufoco.
Como é pendurar um ouro no pescoço?
Você pensa em tudo que te levou para aquele lugar, como num filme memo. Eu era novo ainda, tinha 12, 13 anos, e ficava debaixo do chuveiro pensando como seria. Na hora, eu fui às nuvens e flutuei.