Em 2017, o futsal brasileiro ganhou um badalado reforço estrangeiro – um russo da zona leste de São Paulo. Eder Lima, considerado um dos pivôs mais eficientes de mundo, decidiu retornar ao país após 11 anos jogando na forte liga da Rússia. Em seus primeiros meses no Magnus Sorocaba, provou seu valor na conquista do Liga Paulista com gols decisivos na campanha encerrada no último domingo. Feliz na nova casa, Eder já cogita permanecer vários anos e quem sabe até se aposentar no clube do interior paulista. Mas não abre mão de atuar pela seleção russa, pela qual conquistou o vice-campeonato mundial no ano passado. Ele elogiou o “calor” da torcida de Sorocaba e falou da honra de atuar ao lado do gênio Falcão.
Por que decidiu retornar ao Brasil após 11 anos na Rússia? Voltei para ficar perto de São Paulo, perto da família e de amigos. Tive propostas de grandes clubes da Europa, mas a estrutura aqui é excelente, Sorocaba cidade respira o futsal, a casa está sempre cheia, nas ruas as pessoas reconhecem seu trabalho. Na Rússia, mesmo depois de 11 anos no país, não sentias esse calor, esse carinho dos torcedores. Estou muito feliz e quero contribuir com mais gols e títulos.
A situação financeira na Rússia também contribuiu para seu retorno? Sim, hoje o futsal está passando uma crise no mundo todo. Lá alguns clubes grandes quebraram. Joguei 11 anos no time da Gazprom (empresa de energia) e saí muito triste, com salários atrasados, até agora estão me devendo. Mas já estava com vontade de voltar. Há um ano, a Rússia era a melhor opção do mundo, mas acho que agora só tem um ou dois clubes estruturados. Não aconselho ninguém a ir para lá neste momento.
Mas seguirá jogando pela seleção russa? Sim, esse foi um dos acertos que fiz aqui, não quis abrir mão da seleção russa. Assim que eles me convocarem, estarei à disposição. Recentemente fizemos um amistoso em Moscou contra Portugal, passei uma semana lá. Fomos eu e o Robinho de brasileiros e foi muito legal, porque o jogo passou em TV aberta. Foi o primeiro jogo que fiz na capital pela seleção. Fui reconhecido no aeroporto, fiz dois gols e recebi muito carinho. Depois do vice-campeonato mundial ano passado, ganhamos mais reconhecimento, mesmo com o problema financeiro dos clubes.
Aprendeu a falar russo? Sim, falo bem, escrever já é mais difícil. Fiz aula intensiva durante quatro meses e depois fui pegando com a convivência, hoje em dia não passo necessidade nenhuma. Só nas questões mais burocráticas que preciso da ajuda de um tradutor.
Foi vítima de racismo? Sim, assim como vários amigos meus. Uma vez eu estava no mercado tentando ler algo e um russo pegou o produto da minha mão, como se eu não pudesse comprar. Uma amiga minha angolana uma vez recebeu uma cuspida no metrô sem motivo nenhum, vi coisas bem feias. Mas isso diminuiu bastante nos últimos anos depois de protestos com jogadores de futebol de campo e também de futsal.
Financeiramente, há muita diferença entre jogar na Europa e no Brasil? Sim, principalmente na Rússia, porque lá tem muitas premiações, bônus por vitória, por título. Aqui no Brasil não tem isso. E o peso da moeda também dá uma diferença muito grande. Mas nesse momento da vida não pensei tanto na parte financeira.
Conseguiu fazer um bom pé-de-meia? Não posso reclamar, tenho moradia, ajudei muita gente na minha família. Tenho de agradecer muito à Rússia que me acolheu muito bem e me proporcionou tudo isso. Faria tudo de novo e estou muito feliz com a carreira que construí.
O Magnus hoje compete com qualquer time do mundo? Bate de frente, nossa equipe é muito forte, com vários jogadores consagrados, de seleção, além dos meninos que vieram do Corinthians que darão continuidade, são jogadores que gostam de decisão. Mas temos de demonstrar isso em quadra.
E como é atuar ao lado do Falcão? Sem comentários. É um cara que está acima do nosso esporte, é um Pelé do futsal mesmo. É uma felicidade grande poder estar ao lado dele, uma pessoa tranquila, que brinca com todos no grupo. É um prazer participar desse projeto com ele.