Poucos jogadores, na história do futebol mundial, estão tão ligados a um único time como o vascaíno Roberto Dinamite. Com 1 110 jogos, em duas passagens — de 1971 a 1979 e depois de 1980 a 1992 —, ele marcou 708 gols. Pela seleção brasileira pôs 26 bolas na rede e disputou as Copas de 1978, como titular, e de 1982, na reserva. Para os torcedores do Vasco da Gama era o maior dos ídolos — a ponto de ter sido eleito presidente do clube entre 2008 e 2014. No breve período em que tirou a camisa cruz-maltina, jogou pelo Barcelona, da Espanha, em passagem malsucedida. No retorno ao Brasil, em seu jogo de acolhida de volta para casa, teve uma das mais espetaculares atuações de um atleta no Maracanã, em 1980. Marcou todos os cinco gols na vitória do Vasco contra o Corinthians por 5 a 2 — em resultado que hoje, com olhar retrospectivo, até mesmo os alvinegros paulistas lembram com espanto e genuína admiração.
Dinamite foi uma bomba demolidora de recordes. É o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro (190 gols), maior artilheiro do campeonato carioca (279 gols) e maior artilheiro em São Januário, a sede do Vasco (184 gols). “Quando menino, passei a torcer pelo Vasco por causa do Ademir e, depois, me tornei mais vascaíno ainda por causa do Roberto”, disse o sambista Paulinho da Viola. “Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente em momentos que jamais esquecerei. Era uma pessoa doce, generosa, mas implacável com os adversários em campo.” A vida dedicada a vencer por um único time, o Gigante da Colina, como é chamado o clube, não o impediu de romper fronteiras clubísticas. No velório do atacante, no centro do gramado de São Januário, o rubro-negro Zico — o único jogador carioca a rivalizar na adoração por uma torcida — foi recebido com aplausos, em gesto de reconhecimento da amizade, no avesso da rivalidade. Dinamite lutava havia meses contra um câncer no intestino. Morreu em 8 de janeiro, aos 68 anos, no Rio de Janeiro.
Publicado em VEJA de 18 de janeiro de 2023, edição nº 2824