Erguida em Saint-Denis, subúrbio parisiense que vai abrigar as provas de natação e atletismo, a Vila Olímpica começa a funcionar na quinta-feira, 18, e mesmo antes de abrir as portas já faz o caldeirão das polêmicas fervilhar. Não são os franceses aí que estão franzindo o cenho, mas todo o mundo, literalmente.
Um dos pontos que põem gente de variadas nacionalidades no mesmo campo são as camas oferecidas nos quartos de 12 metros quadrados cada. Seguindo a toada dos Jogos de Tóquio, em 2021, elas serão à base de papelão. Isso mesmo. E logo foram apelidadas de “antissexo”. Na prática mesmo, parece que o móvel à base de 80% de material reciclado não seria empecilho para nada. Dados fornecidos pela organização dos Jogos esclarecem: apesar da aparência frágil, a cama aguenta até 200 quilos.
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Na Olimpíada japonesa, as circunstâncias eram para lá de desfavoráveis ao contato físico. O mundo ainda estava assombrado pela pandemia, e a recomendação oficial era manter o distanciamento para qualquer espécie de sociabilidade. Agora, não. Em Paris, essa barreira foi completamente dissolvida, e uma quantidade colossal de camisinhas será distribuída aos competidores: 300.000 no total.
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À disposição pela primeira vez na Vila de Barcelona, em 1992, as camisinhas são, em geral, 100% consumidas. E não há de ser a cama de papelão que apagará a chama olímpica.
Calor Ambiente
Mas a polêmica não para na questão dos leitos. Também o ar-condicionado (ou a ausência dele) anda dando o que falar. Tentando se manter fiel à cartilha da sustentabilidade, a prefeita Anne Hidalgo decidiu que não haverá aparelhos em nenhum dos 7.200 quartos. A razão: baixar o consumo de energia durante o torneio e poupar o meio ambiente.
Faltou combinar com americanos, holandeses, gregos, canadenses, brasileiros, uma lista interminável de passaportes. Insatisfeitas, as autoridades desses países se queixaram, alegando que o calor inclemente pode afetar o bom sono e a performance dos atletas. Ficou então acordado que cada qual pagará por seu lote de aparelhos — 300 euros a unidade.
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O Brasil já encomendou 130 deles, ao custo total de 230.000 euros. Também os Estados Unidos pediram uma remessa. “Apreciamos o conceito de não ter ar-condicionado devido à pegada de carbono, mas estes são Jogos de alto desempenho. Não estamos indo a um piquenique”, engrossou o tom Matt Carroll, CEO do Comitê Olímpico americano. Feitas as contas, 35% dos quartos contarão com um ar-condicionado para aplacar um calor que até agora não chegou com tudo, mas promete.
“Sobrevivência da humanidade”
A prefeita, já muito criticada por dificultar a vida dos motoristas dando poder às bicicletas, reagiu à contenda. “Tenho respeito pelo conforto dos atletas, mas penso muito mais na sobrevivência da humanidade”, disse. “O que importa para mim são esses apartamentos, que vão se tornar um bairro onde as pessoas de Saint-Denis viverão.” Estimam-se 6.000 moradores ali em um futuro pós-jogos.
Ah, e para quem não alugou o seu próprio ar-condicionado, a prefeitura informa: os blocos foram construídos com um espaço entre um e outro para permitir a circulação de correntes de vento, e o local é ligado ainda a um sistema que bombeia água do Sena para tubulações subterrâneas, conseguindo baixar a temperatura em até 6 graus na comparação com o exterior. É o mesmo mecanismo, dizem, que abastece o museu do Louvre e a Assembleia Nacional. Em meio aos acalorados debates que incendeiam a cena política francesa, um refresco ali vem bem a calhar.
De resto, é torcer para que os termômetros não alcancem as inclementes temperaturas do verão passado.