‘Barril dobrado, príncipe do gueto’: conheça o carismático boxeador Keno Marley
Baiano luta as quartas de final nesta quinta-feira contra o uzbeque Lazizbek Mullojonov
Não se deixe enganar pelos 1,91m e 92kg de Keno Marley. Natural de Conceição do Almeida, no recôncavo baiano, o boxeador é um daqueles pesos-pesados que exalam simpatia.
Assim que Bia Ferreira garantiu sua vaga nas semifinais no boxe, já conquistando ao menos uma medalha de bronze, coube a Keno fazer a festa de celebração. De dentro do ônibus, na volta da arena à Vila Olímpica, botou a caixa de som para torar no volume máximo, convocou todos os atletas e gravou um vídeo.
O sorriso largo característico não sai nem mesmo quando publica algum vídeo treinando. O único momento em que muda a feição é quando está dentro do ringue, algo que ele deixou bem claro em Paris, depois de passar por todos os adversários e chegar às quartas de final, que serão disputadas nesta quinta-feira, 1, contra o uzbeque Lazizbek Mullojonov.
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“Foco e determinação estão em dia! Conto com a energia positiva de vocês EU SOU BARRIL DOBRADO PRÍNCIPE DO GUETO”, escreveu em publicação no Twitter, mostrando um vídeo de treinamento na Vila Olímpica.
Por onde passa, faz questão de deixar claro da onde é, e não à toa. Dois dos cinco campeões mundiais de boxe do Brasil são baianos, e o estado é responsável pela metade das medalhas olímpicas do país. Há, claro, Acelino “Popó” Freitas, tetracampeão mundial, mas é preciso lembrar também de nomes como Valdemir Pereira, Reginaldo Holyfield e, o campeão olímpico em Tóquio Hebert Conceição, de quem recebeu apoio e cuidado ao longo de sua trajetória.
Como seu nome já é chamativo o suficiente, também não precisa nem mesmo de um apelido, como é comum no esporte. O Marley veio em homenagem ao cantor jamaicano Bob Marley, expoente do reggae. O Keno que é mais exótico: foi dado por conta da falha geológica do Grand Canyon, nos Estados Unidos.
Desafios pessoais
Ao lado do irmão, Keno costumava assistir filmes de boxe, especialmente sobre Muhammad Ali. Depois de participar de seu primeiro treino, tomou gosto e começou a chamar a atenção em competições locais. Aos 13 anos, deixou a Bahia para morar em São Paulo, sozinho.
O baiano despontou no cenário internacional em 2018, quando conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude em Buenos Aires – a primeira de várias conquistas. No ano seguinte, na sua estreia em Jogos Pan-Americanos, foi prata no meio-pesado, carimbando o passaporte para Tóquio, onde surpreendeu e terminou na quinta colocação, a uma vitória do bronze.
Quem via os bons desempenhos nem sabia o que se passava. No começo de 2021, o baiano recebeu a notícia que jamais gostaria de ter ouvido: seu irmão, maior incentivador da sua carreira, havia sido assassinado. Passado o primeiro momento, outro choque: um transtorno de estresse pós-traumático.
Nesse processo, a equipe permanente do boxe teve um papel fundamental de apoio ao pugilista. Ele voltou para São Paulo, onde seguiu com o tratamento psiquiátrico. Aos poucos, conseguiu parar com a medicação, que chegou a lhe impedir de treinar, já que não poderia levar pancadas na cabeça.
Como está focado na preparação para as lutas e longe do celular, Keno deixou uma pessoa encarregada de cuidar do seu Twitter e afins. O “adm”, gíria para administrador da conta, resumiu bem a figura, que tenta mais uma medalha para o Brasil.
“Último surto do adm: ISSO É KENO MARLEY PURO SUCO DAS PIPOCAS DO CARNAVAL DE SALVADOR!!! MUITO TREINO NO TRIO DO IGOR KANNARIO E BAIANA SYSTEM”.