Será que a pista roxa do Stade de France foi pintada para combinar com as unhas da velocista americana Sha’Carri Richardson? Dada a pompa e circunstância que envolvia a final dos 100 metros rasos no Stade de France, era o que se imaginava. Ícone de moda nos Estados Unidos, campeã nas redes sociais, ela muda de aparência com a velocidade com que corre: cores quase sempre fortes, tanto nas roupas de esporte quanto em modelos do cotidiano, cabelos ao vento ou não, cílios artificiais, tatuagens pelo corpo todo. Sua conta no Instagram tem mais de 3,6 milhões de seguidores. Quando o estádio silenciou, segundos antes do tiro de largada e a batida adesiva de Freed From Desire, da italiana Gala, finalmente parou de ser executada, as 80 000 pessoas pareciam estátuas à espera de sair em disparada ao encontro de um momento histórico, debaixo de chuva forte.
Foi histórico, sim, mas de outro modo. Richardson foi superada por Julien Alfred, de Santa Lucia, que venceu a prova com o tempo de 10s72. A americana ficou em segundo, depois de uma largada muito ruim, com 10s87. O terceiro lugar foi de Melissa Jefferson, também dos Estados Unidos. A texana Richardson, de 24 anos, que ficara de fora dos Jogos de Tóquio depois de ser flagrada por consumo de maconha (“era para lidar com a tristeza da morte de minha mãe biológica”, disse), tinha a esperança de reinstalar as americanas no topo do pódio. Seria a primeira vez desde 1996, com a vitória de Gail Devers.
“Não estou de volta, estou melhor” é o dístico de Richardson nas redes sociais. Na noite parisiense deste sábado, 3 de agosto, ela foi freada pelos ventos de Santa Lucia, na primeira medalha olímpica da história do diminuto país. Foi uma final diferente, com piso molhado, que parece não ter atrapalhado os tempos, e sem a bicampeã olímpica Shelly-Ann Fraser-Pryce, da Jamaica, que não participou da semifinal. Para Sha’Carri Richardson ficou um gostinho de decepção. E Santa Lúcia tem uma heroína.