A dolorosa derrota do arqueiro Marcus D’Almeida
“Perdi para a Simone Biles do tiro com arco”, disse o o brasileiro número 1 do mundo após ser eliminado em Paris
Sob a moldura do Hôtel des Invalides, prédio de domo luminoso onde está sepultado Napoleão Bonaparte, em Paris, o arqueiro Marcus Vinicius D’Almeida, o número 1 no ranking mundial, travou uma batalha de flechas que já sabia ser complicada. O oponente era o coreano Kim Woojin, hoje o segundo melhor, atleta conhecido pela frieza ao disparar em direção ao alvo que Marcus nunca venceu.
Eram só as oitavas de final, mas o duelo tinha todos os ingredientes de decisão de campeonato. E o brasileiro, já habituado à pressão olímpica – está em sua terceira – apareceu com um sorriso no canto da boca e respeitosamente cumprimentou o adversário. Eles vivem se cruzando no circuito mundial, e Marcus sabia que era dureza.
Quando, já na largada, não acertou o centro do alvo, enquanto Woojin, inabalável, seguia cravando 10, desfocou. E errou uma, duas, três vezes. Uma derrota envolta em silêncio – não se ouve um pio na hora do preparar, apontar…flecha! Depois, sim, a torcida gritou e agitou bandeira, a maioria da Coreia do Sul, os senhores do tiro com arco, que explodiram na arquibancada: deu 7 a 1 para eles, um placar indigesto.
PÉ ESQUERDO
A estreia de Marcus em Paris já não tinha sido à altura de sua alta performance em competições mundo afora. Ficou num muito modesto 17o lugar. “Vacilei”, reconheceu.
Mesmo assim, estava confiante. Já tinha vencido neste mesmo cenário do Hôtel des Invalides, do qual tanto gosta por ter os prédios em volta como anteparo para o vento. “É um lugar muito favorável”, disse ele, em entrevista a VEJA antes de embarcar.
Vindo de Maricá, cidade a uma hora do Rio de Janeiro, ele tem todo o mérito de fazer germinar num lugar improvável o gosto por um esporte sem nenhuma tradição no Brasil. De certo modo, o encara como arte. E detesta falhar. No fim da disputa, bem direto, Marcus desabafou: “Perdi para a Simone Biles do tiro com arco.”
Esse melancólico 7 a 1 das flechas iguala seu desempenho nos Jogos de Tóquio, que havia ficado atravessado na garganta. “A derrota sem uma análise é só uma derrota. Com o tempo, eu aprendi a extrair coisas dela”, diz. Agora, é digerir essa nada saborosa queda em Paris.