O Rali dos Sertões, o maior evento de sua família na América Latina, tem planos ainda mais ambiciosos em 2022. De 26 de agosto a 10 de setembro, carros, motos, quadriciclos e utilitários multitarefas (UTVs, na sigla em inglês) atravessarão esplêndidas paisagens, de sul a norte do país, em edição comemorativa de trinta anos do evento e do bicentenário da independência. A festança vem sendo planejada há três anos com um objetivo: ser a maior referência mundial de esportes de aventura — e seguir promovendo a cultura e o turismo do Brasil.
O Sertões, como é oficial e carinhosamente chamado, dobrou o tamanho de seu percurso, que vai de Foz do Iguaçu (PR) a Salinópolis (PA), e também os dias de duração do evento. Será uma inédita viagem por todas as regiões e biomas do país, numa aventura grandiosa e realmente comparável ao rali mais famoso do planeta, o Dakar. Criada em 1979, ainda sob o nome de Paris-Dakar, pois ia desde a capital francesa até a senegalesa, a prova atualmente é disputada na Arábia Saudita, com 8 300 quilômetros de extensão. São 1000 quilômetros a mais em relação ao Sertões. Contudo, levando em conta apenas os trechos cronometrados da travessia, conhecidos como “especiais”, os 4 811 quilômetros da competição brasileira já a credenciam à incontestável condição de número 1.
Não seria exagero dizer que, também nos aspectos técnicos, o Sertões cresce e aparece. “É mais desafiador pelo alto nível dos competidores e pela variedade de piso”, explica Leandro Torres, campeão do Dakar em 2017 na categoria UTVs. “Passamos por areia, terra batida, estrada e pedra, e não somente deserto.” Um outro modo de medir a singularidade da disputa é sua relevância cultural ao atravessar paisagens tão distintas não só do ponto de vista ambiental como sociológico. Seria o caso, talvez, de estabelecer comparação com o Tour de France de ciclismo. Diz o motociclista francês Adrien Metge: “Além de ser um rali completo, é realmente uma festa incrível em cada cidade pela qual passamos”.
É inquestionável: o Sertões vai muito além da disputa por troféus e medalhas. O turismo nacional é o maior beneficiado, já que locais exuberantes como o Jalapão (TO) ou o Cânion do Viana (PI) só se tornaram conhecidos depois de aparecerem em reportagens sobre o rali. Neste ano, há mais de 300 expedicionários, como são chamados aqueles que acompanham o trajeto meramente por lazer. “Injetamos cerca de 1 milhão de reais na economia das cidades sertanejas com nossas caravanas de até 2 000 pessoas”, afirma Leonora Guedes Vieira, diretora-executiva da corrida. “Em alguns casos, ocupamos toda a rede hoteleira local.” As ações sociais são motivo de orgulho ainda maior. A startup Saúde, Alegria e Sustentabilidade (SAS), criada em 2013, transporta 200 voluntários cuja meta é realizar 16 000 atendimentos em cinco cidades e zerar a fila do SUS em determinadas especialidades. A cada parada há ações educativas e culturais, como um concurso de artes para crianças e uma competição gastronômica para promover os restaurantes locais. O renomado chef Olivier Anquier competirá nas motos e também ajudará a avaliar os pratos regionais, como o peixe com açaí típico do Pará ou a carne de bode do Piauí. A sustentabilidade é outra prioridade. O evento já tem UTVs híbridas (movidas a etanol e baterias elétricas), desenvolvidas pela equipe Giaffone Racing, e uma série de outras iniciativas para reduzir a poluição. “Queremos promover a brasilidade e o meio ambiente, além de levar alegria, saúde, educação e cultura”, diz Leonora. “O Sertões é uma agenda positiva do país e indutor de desenvolvimento.” Ela tem razão. A poeira vai subir, trazendo bons ventos.
Publicado em VEJA de 24 de agosto de 2022, edição nº 2803