‘Tão amável quanto Afrodite, tão sábia quanto Atena – com a velocidade de Mercúrio e a força de Hércules’, era a descrição da amazona em sua primeira HQ
Os mitos gregos foram fonte não apenas para as crenças que permearam a vida na Roma Antiga, de mitologia contígua à da Grécia Clássica, mas para boa parte da cultura que se compôs no Ocidente nos últimos milênios, acrescida da contribuição judaico-cristã. Enraizados na cultura ocidental, os mitos difundidos pelos helenos, como também eram chamados os gregos, se tornaram temas de pintores, de escritores e até da cultura pop. Nos quadrinhos, diversos personagens têm dívida com os gregos, como Elektra, da Marvel, Aquaman e em especial a Mulher-Maravilha, da rival DC Comics, personagem inspirada na lenda das amazonas, mulheres guerreiras citadas por Homero em dois cantos da Ilíada.
O criador da Mulher-Maravilha, o psicólogo e cineasta William Moulton Marston, teve a ideia de tomar emprestados elementos da mitologia grega, para a personagem, dentro de casa: ele se inspirou em conteúdos da esposa Elizabeth, que estudava grego na universidade, de acordo com Tim Hanley, autor do livro Wonder Woman Unbound: The Curious History of the World’s Most Famous Heroine (editora Paperback, Mulher-Maravilha Desvendada: A Curiosa História da Super-Heroína Mais Famosa do Mundo, em tradução livre), ainda sem tradução no Brasil.
“Certos elementos da cultura helênica casavam bem com as teorias de Marston e seus propósitos para a heroína”, diz Hanley a VEJA. Era o caso de uma sociedade matriarcal como a das amazonas: grande entusiasta do feminismo, Marston acreditava que, por seu poder de compaixão e sabedoria, as mulheres eram superiores aos homens e poderiam não apenas ser independentes deles, mas liderá-los, tomando as rédeas de seu destino e o poder do mundo.
Outro pesquisador do universo da Mulher-Maravilha, Steve Korte, autor de uma série de quatro livros intitulada Wonder Woman Mithology (“Mitologia da Mulher-Maravilha” em tradução direta, editora Capstone, ainda sem versão no Brasil), conta que Marston chegou a definir a personagem em 1941 como “uma propaganda psicológica para o novo tipo de mulheres que deveriam governar o mundo”. A frase estava em um comunicado feito pelo autor para divulgar a heroína para a imprensa. No mesmo texto, ele dizia que “não há amor suficiente em organismos masculinos para governar esse planeta pacificamente”.