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O melhor professor do mundo

Peter Tabichi, do Quênia, é o vencedor do mais prestigiado prêmio da educação. A brasileira Débora Garofalo ficou entre os dez finalistas

Por Monica Weinberg, de Dubai
Atualizado em 24 mar 2019, 15h10 - Publicado em 24 mar 2019, 14h07
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  • Os dez candidatos a melhor professor do mundo no Global Teacher Prize, o Nobel da educação, deixavam à mostra no rosto uma ansiedade muito justificada. Para ganhar os holofotes em Dubai, diante de uma plateia lotada de gente de renome na área, esta turma sobreviveu a uma peneira de 10.000 candidatos vindos de 179 países em um processo duríssimo. Quando o ator Hugh Jackman anunciou neste domingo, 24, o nome do vencedor, Peter Tabichi, do Quênia, o auditório tremeu. Ele chacoalhou sua sala de aula, fincada em região pobre do semiárido africano, com um clube de ciências que despertou a curiosidade e o talento de jovens sem nenhuma perspectiva. O prêmio foi entregue pelo xeique Mohammed bin Rashid Al Maktoum. E Tabichi, em tom nada professoral, se dirigiu ao público: “Ensinar é um ato de nobreza”, enfatizou.

    Aos 36 anos, egresso de uma família de professores (o pai, inclusive, subiu ao palco arrancando aplausos), ele conseguiu cultivar a excelência num terreno em que grassava todo tipo de mazela: abuso de drogas, gravidez precoce, abandono escolar. Tabichi deixou o emprego em uma escola particular justamente para tentar guindar deste cenário os adolescentes de um colégio público. Com o clube que criou, promoveu a matemática, fomentou o pesamento científico e emplacou sua turma entre os primeiros em olimpíadas pelo Quênia. Os estudantes também levaram um prêmio da britânica Royal Society of Chemistry, por conseguir usar plantas locais para gerar eletricidade – só uma amostra do que faz.

    Uma brasileira também gravou o nome no panteão dos dez melhores, em que figuram só aqueles que extrapolam o terreno conhecido e inovam na sala de aula alcançando resultados extraordinários. A paulista Débora Garofolo, 39 anos, chegou à reta final impulsionada por um trabalho que levou a uma guinada na vida de seus alunos na escola municipal Ari Parreiras, encravada entre quatro favelas de São Paulo – a maior delas, a Vietnã. O colégio precisava de uma professora para ensinar robótica e programação, e Débora, que lecionava de tudo para crianças menores, resolveu levantar o dedo. Disse à diretora que queria se arriscar no campo da tecnologia e ouviu: “Mas você é ótima alfabetizadora.” Era verdade. “Insisti, insisti”, ela conta a VEJA. “Entendi que por essa via poderia impactar para valer o rumo de crianças e jovens com tão poucas chances de crescer.”

    Como os demais professores que cruzaram o tapete vermelho da educação em Dubai, Débora subverteu a lógica dominante da lousa-e-giz e inventou uma aula de robótica que ampliou – em muitos sentidos – as fronteiras da escola. Primeiro, literalmente, suas turmas (do 1º ao 9º ano), cruzaram o portão atrás de objetos, peças, fios perdidos no lixo que entulha o entorno. Estranharam. Iam ficar catando lixo quando o problema não era deles, mas do vazio deixado pelo poder público? Mas foram e dali retiraram fragmentos que, ao longo de três anos, somaram uma tonelada convertida em robôs, carrinhos e aviões movidos por circuitos elétricos montados na classe. Embutem princípios da física e da matemática, demandam de meninos e meninas que treinem a escrita preenchendo fichas com rigor científico e lapidam a capacidade de solucionar problemas.

    Débora fez sua escola dar uma virada ao por em prática a ideia de que uma disciplina pode conversar com a outra, assim como acontece fora do ambiente escolar. No começo, houve certa desconfiança, mas seus pares encararam a sacudida na rotina – e o resultado veio: o Ideb da Ari Parreiras saltou de patamar em dois anos (de 4,2 para 5,2 em dez), e a evasão encolheu junto com a incidência de trabalho infantil. O lixo, por sua vez, virou um problema menor, com os moradores ajudando a frear o acúmulo. Exemplo de como uma iniciativa simples, semeada no meio de um cenário de escassez, pode ser propulsora de qualidade — esta, aliás, uma lição que todos os dez finalistas do prêmio deixam.

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    De nacionalidades diferentes, egressos de países ricos e pobres, eles, que circularam durante dois dias pelas salas de conferência de um dos gigantescos hoteis de Dubai, têm muito em comum. Todos entendem a necessidade de perseguir um elo indissolúvel com os alunos. O inglês Andrew Moffat, que toca concorridas classes de maioria muçulmana, cativou os estudantes pavimentando sua autoestima. A dele mesmo foi às alturas. “Primeira conquista: os alunos sabem o meu nome. Segunda: gostam de mim”, brincou, enquanto dava uma amostra de sua aula. Os dez também se preocupam em fincar metas, acompanhá-las e envolver a criança no plano. Cada um achou um jeito de atrair a atenção — clube de ciências, rádio escolar, música – e estimular a cartilha elementar deste século – criatividade, colaboração, habilidade para juntar fragmentos de informação e compor um raciocínio.

    O prêmio foi dado pela quinta vez no Global Education & Skill Forum, encontro de notáveis que trouxe à mesa desafios e rotas para encontrar a excelência. No valor de 1 milhão de dólares, a honraria é concedida pela Fundação Varkey, do discretíssimo bilionário Sunny Varkey, filho de um casal de indianos que emigrou para os Emirados Árabes Unidos em 1959 e lá abriu o primeiro colégio do que viria a se tornar o maior grupo de escolas particulares do mundo, o Gems. Os professores que subiram ao palco ajudaram a descortinar a trilha da qualidade, em que até eles ainda tateiam, por não ser linear. O argentino Martin Salvetti, desta seleta lista, assim resumiu: “Saber como manter uma criança interessada na escola é muito mais difícil do que desvendar a fórmula da Coca-Cola.”

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