Há dez anos, o jornalista Iberê Thenório e a terapeuta ocupacional Mariana Fulfaro produzem vídeos para o YouTube sobre curiosidades de ciências no canal Manual do Mundo, que hoje atinge um público de 10 milhões de “alunos”. “Não nos consideramos um canal de educação, mas de entretenimento educativo”, explica Mariana. “É quase uma relação de avô com neto, de pai com filho, é mais essa transmissão de conhecimento”, completa Thenório.
Para a dupla, o YouTube foi um meio de ampliar o acesso à educação. “Quando eu estudava para o vestibular, assistia ao Telecurso 2000, que era mais limitado, não era esse mundo como é o YouTube. Acho que democratiza, sim, porque permite que as pessoas acessem todo um mundo de conhecimento, tenham acesso às mesmas aulas que escolas de ponta proporcionam”, argumenta Mariana.
Os criadores do Manual do Mundo foram entrevistados pelo editor Filipe Vilicic no fórum Amarelas ao Vivo, versão de palco das tradicionais Páginas Amarelas da revista.
O objetivo da dupla — assessorada por professores de todas as áreas, com direito a um físico contratado exclusivamente para auxiliá-los — é “plantar a sementinha da curiosidade”. “Tem muita gente que conta que foi fazer faculdade de física, de química, de biologia, por causa do Manual do Mundo, ou que participou de uma feira de ciências”, emenda a autora.
De acordo com Thenório, o objetivo não é “pregar para convertido”. “Queremos que aquela pessoa que senta no fundo da sala e nunca se interessou por ciências passe a se interessar por assistir ao nosso canal”, diz o jornalista.
Eles concordam que há muita desinformação na plataforma de vídeos, mas consideram que essa não é uma característica exclusiva dela. “Infelizmente, o obscurantismo é um movimento do século XXI. No YouTube tem isso, de gente falando que a Terra é plana ou com erros crassos de química, mas eu acho que ele tem uma vantagem: entre Instagram, WhatsApp, Facebook e Twitter, é o único que tem conteúdo com profundidade”, defende Thenório.
Os dois contam que sempre pesaram a responsabilidade de se comunicar com crianças e jovens. ” Nós nos preocupamos muito com o que estamos falando, se é seguro, se dá para fazer em casa (em caso de experiências científicas)”, comenta Mariana, que considera “a educação uma obrigação dos pais”. “Eles têm que ter o controle do que os filhos fazem, para que não acessem aquilo que não pode ou que, se acessarem, que possam procurar esse pai para conversar sobre.”
Mariana e Thenório afirmam gostar de manter uma relação próxima com as escolas e com os professores que assistem ao canal. Muitos docentes reproduzem os vídeos para ajudar a elucidar temas, bem como sugerem outras pautas e projetos que eles poderiam fazer. “Pensamos no que queremos demonstrar e vamos atrás do conteúdo que embasa”, explica a terapeuta ocupacional.