A Anfavea, associação das montadoras de veículos, inicia nesta segunda-feira, 2, uma nova gestão. Para Márcio de Lima Leite, o novo presidente da entidade, o cenário pouco favorável da indústria automobilística brasileira deve ser visto como otimismo e oportunidade. Durante evento de posse, Leite falou a seus pares do setor sobre a importância da indústria nacional e que o desafio é manter toda a cadeia produtiva viva. Segundo ele, há 98.000 empresas fornecedoras da indústria automobilística e que o investimento na cadeia pode ajudar a reduzir a dependência do Brasil de produtos estrangeiros. No último ano, segundo o executivo, o país deixou de produzir 350 mil carros devido a falta de componentes.
Segundo ele, além da crise dos semicondutores, há outras cadeias com grandes gargalos, como a borracha e peças em geral. E, uma solução para diminuir essas questões é a valorização do ecossistema da indústria. “O que estamos fazendo hoje com essa rede de fornecedores? Temos de trazer investimento para o país. Senão tivermos uma base industrial forte, não é possível pensar em competitividade”, defendeu Leite, que é diretor jurídico e de relações institucionais do grupo Stellantis na América do Sul. Na quarta-feira, o novo presidente da Anfavea vai a Brasília se encontrar com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com CEOs de montadoras que atuam no Brasil para levar as demandas do setor. “Os serviços são importantes, mas a indústria gera emprego que faz as pessoas sonharem mais adiante”, afirmou.
Além dos gargalos produtivos, a indústria automobilística enfrenta um problema bem conhecido dos brasileiros, a inflação. Toda essa conjuntura de pandemia, falta de peças e preços altos (com carros populares custando acima de 60.000 reais) faz com que as vendas e a produção caiam. Em abril, foram comercializadas 147.256 unidades, queda de 15,9% na comparação com abril do ano passado. A indústria, que tem capacidade para produzir 4,5 milhões de carros, opera com cerca de 50% de seu potencial.
Inflação à parte, Leite vê a redução da carga tributária para o aumento de competitividade no Brasil como fundamental tanto para o mercado interno como de “porta para fora”, ou seja, para exportação. Apesar de o país estar às vésperas do período eleitoral e com o Congresso em ritmo lento, o executivo elenca a reforma como o principal item a ser trabalhado junto com o governo. “Temos conversado bastante com o governo, precisamos acelerar a reforma tributária para que o Brasil se torne competitivo”, disse o novo presidente. “A redução da carga tributária é louvável, e o que o governo tem apresentado de que haverá o fim do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados].” Na última semana, o governo aumentou a isenção de 2% para 35% no imposto.