A eficiência das vacinas contra a Covid-19 fazem parte do cenário base do Banco Central para a retomada da economia da crise causada pelo novo coronavírus. De acordo com a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira, 15, os resultados de testes com os imunizantes abrem um processo de normalização da economia internacional, apesar dos efeitos não serem sentidos em um primeiro momento. “Os resultados promissores nos testes das vacinas contra a Covid-19 tendem a trazer melhora da confiança e normalização da atividade no médio prazo”, afirma trecho do documento do encontro que manteve a taxa básica de juros da economia brasileira em 2%.
A evolução da pandemia e das políticas mundiais de imunização está diretamente ligada à evolução das políticas monetárias mundo afora, inclusive no Brasil. Ao traçar o cenário macroeconômico para a decisão sobre a Selic, o Copom salienta o aumento de casos na Europa e nos Estados Unidos. Assim, vê que os estímulos financeiros em grandes economias, como o pacote do Banco Central Europeu anunciado recentemente e as negociações nos EUA, tendem a favorecer economias emergentes como o Brasil na atração de investimentos. Porém, o aumento de casos no Brasil aumenta a incerteza sobre a recuperação das atividades no quarto trimestre.
Com a retomada da indústria e do comércio, os serviços foram os últimos a reagir e a expectativa é que seriam eles a puxar a retomada neste fim de ano. “O nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado, notadamente quando essa ociosidade está concentrada no setor de serviços. Esse risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional”, afirma o Comitê.
Por outro lado, o risco fiscal continua alto, devido medidas de estímulo tomadas pelo governo. “A incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais”, afirma o Copom. O coronavoucher, que pagou cinco parcelas de 600 reais e e parcelas complementares de 300 reais vai até o próximo dia 31 e, até esse momento, não há indicação de que será prorrogado, apesar de haverem discussões no Congresso. Segundo o Copom, um prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que piore a trajetória fiscal do país, “ou frustrações em relação à continuidade das reformas”, podem elevar os prêmios de risco. “O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”, diz a ata.
A política de distribuição emergencial de renda foi responsável pela retomada dos outros setores e também um dos motivos para o aumento da inflação em 2020. Mas, a redução dos valores, somadas à proximidade do fim da medida, elevam o grau de incerteza da retomada.
Inflação
A alta do IPCA neste no, que deve terminar 2020 acima da meta de 4%, continua sendo encarada como um efeito pontual para o Copom. “Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente”.
Devido a inflação ancorada — até o momento — para 2021 e 2022, o Copom decidiu manter a “forward guidance” (prescrição futura, em português), ferramenta utilizada para sinalizar por quanto tempo a taxa de juros se manterá no patamar atual, o Banco Central. Apesar disso, há um alerta de que esse mecanismo pode ser retirado caso as condições “não sejam satisfeitas”. Assim como no comunicado pós reunião, o Copom salientou que a retirada do “forward guidance” não significa aumento imediato da taxa de juros, porque isso depende do grau de estímulo necessário para a economia — o que está relacionado a velocidade da retomada.