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Uma queda positiva no Banco Central

O Brasil reduz a taxa de juros — tendência adotada por diversos países, diante do temor de uma recessão global, aprofundado pelo embate entre EUA e China

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 15h42 - Publicado em 20 set 2019, 06h30
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  • Se persistia alguma dúvida de que os bancos centrais mundo afora se manteriam inabaláveis em sua decisão de cortar juros, ela caiu por terra na última semana. O.k., houve certo suspense logo depois do ataque a instalações petrolíferas da estatal Aramco, na Arábia Saudita. Em um primeiro momento, não se descartava o risco de uma disparada do preço dos combustíveis, com consequente impacto na inflação. Esse temor se desfez rapidamente, com o anúncio das autoridades sauditas de que os níveis de produção de petróleo logo se normalizariam (veja a reportagem). O que não cedeu foi a perspectiva de uma recessão global, que tem assombrado as maiores economias do planeta nos últimos meses. Assim, na tarde da quarta-feira 18, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, anunciou a redução de 0,25 ponto porcentual em sua taxa básica, levando-a para o intervalo entre 1,75% e 2% ao ano. Horas depois, foi a vez de o BC brasileiro divulgar um corte de 0,5 ponto porcentual nos juros do país, derrubando a Selic para 5,5% ao ano, o patamar mais baixo de toda a sua história.

    No caso americano, a decisão deu sequência a uma política de redução nos juros iniciada em julho, após mais de dez anos de manutenção das taxas. Apesar do corte, a medida foi criticada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que já havia cobrado do comandante do Fed, Jerome Powell, uma queda mais expressiva. “Jay Powell e o Federal Reserve falharam de novo. Sem colhões, sem sentido, sem visão”, disparou Trump — no Twitter, é claro — quando o novo corte veio à tona. Por aqui, a redução obedeceu a uma estratégia que começou também em julho, depois de pouco mais de um ano em que a Selic foi mantida inalterada.

    Há meses a tendência mundial de queda nos juros vem ganhando força ao redor do globo. Em agosto, a Índia, por exemplo, cortou seus juros em 0,25 ponto porcentual ao ano, movimento acompanhado pela Rússia e pelo México. Mais agressiva, a Turquia surpreendeu os mercados ao reduzir, também neste mês de setembro, sua alíquota-base em 3,25 pontos porcentuais ao ano.

    Na zona do euro, o cenário não é diferente. Com taxas negativas, o Banco Central Europeu baixou, no últi­mo dia 12, os juros do bloco — de -0,4% para -0,5%. Foi a primeira redução registrada desde 2016. Pessimista — ou, vá lá, realista —, a instituição encolheu sua projeção de crescimento da economia local, estimando que ela deverá ter uma alta de 1,1% em 2019, ante previsões anteriores de 1,2%. O cálculo se baseia no fraco desempenho da Alemanha, que tem um peso expressivo nos resultados da região. De acordo com o Instituto Kiel para a Economia Mundial (IFW), a expectativa é que a economia alemã recue 0,3% no terceiro trimestre deste ano em relação aos três meses imediatamente anteriores, quando teve contração de 0,1% — cenário que, se concretizado, enquadrará o país na tão temida recessão técnica.

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    (./.)

    Um dos principais responsáveis pelo arrefecimento da economia mundial é a guerra comercial entre Washington e Pequim. “A disputa entre Estados Unidos e China põe em xeque décadas de tendência de globalização, quando empresas e nações assumiam que haveria cada vez menos barreiras comerciais”, acredita João Scandiuzzi, estrategista-chefe do BTG. A performance econômica da China preocupa: no segundo trimestre deste ano, o PIB do país registrou uma alta de “apenas” 6,2%, a menor em 27 anos; já a produção industrial teve um crescimento de “somente” 4,4% em agosto, o mais acanhado desde 2002. A posição brasileira diante do embate entre americanos e chineses é particularmente sensível. A China é o principal parceiro comercial do Brasil, e os Estados Unidos — nação com a qual o presidente Jair Bolsonaro se mostra alinhadíssimo — vêm em segundo lugar. Qualquer movimento das duas potências pode influenciar de forma determinante o desempenho da economia nacional.

    Por tudo isso, a redução da taxa Selic já era esperada. Até porque, vale lembrar, as reformas planejadas pela equipe do ministro Paulo Guedes ainda não renderam frutos — estão em tramitação, como a previdenciária, ou em fase de estudos, caso das mudanças na legislação tributária. Segundo o último levantamento do Banco Central, o índice de atividade econômica recuou 0,16% em julho, quando comparado ao mês anterior.

    O corte dos juros pode não só proteger o Brasil dos tropeços da economia mundial, como também aquecer o consumo interno. Com a Selic reduzida — o mercado não descarta a possibilidade de que ela chegue ao fim do ano em 4,5% —, o crédito fica mais atrativo para a população, estimulando a produção industrial, o comércio e os serviços. Em outras palavras, trata-­se de uma queda positiva — em um cenário negativo.

    Publicado em VEJA de 25 de setembro de 2019, edição nº 2653

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