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Tiro pela culatra

Investidores apostam em crescimento da fabricante de armas Taurus em um governo Bolsonaro. O presidenciável, porém, promete atacar o monopólio da empresa 

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 4 jun 2024, 16h50 - Publicado em 12 out 2018, 07h00
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  • Os executivos da Taurus, fabricante de armas de fogo, estão soltando rojões de tanta alegria. Pudera. As ações da empresa na bolsa de valores vinham oscilando em torno dos 2 reais desde meados de 2015, depois que a Companhia Brasileira de Cartuchos assumiu seu controle. Em agosto, elas fecharam a 2,08 reais. Mas setembro trouxe inesperados bons ventos para os papéis da companhia, e sua cotação subiu mais de 300% até a semana passada. Estavam sendo vendidos na última quarta-feira a 8,95 reais. A disparada foi tão grande e repentina que a B3, o novo nome da bolsa de valores, pediu esclarecimentos à Taurus para saber se havia algum fato relevante sendo escondido do mercado. A empresa informou que desconhece qualquer ato ou fato que possa ter motivado o movimento, mas é notório que a explicação para essa valorização tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro.

    Graças a seu discurso armamentista, e à promessa de revogar o Estatuto do Desarmamento, investidores correram para comprar ações da única empresa brasileira privada do setor. Não há garantia, porém, de que a expectativa vá se confirmar. Em seus discursos, o presidenciável tem prometido acabar com o que chama de “monopólio da Taurus”, abrindo o mercado para que fabricantes estrangeiras possam vender pistolas e outros equipamentos no Brasil. Hoje, a lei não permite a importação de armas e munições que tenham similares fabricados no país. “Já competimos com todas as empresas de armas no mercado de exportação, e não temos motivo para temer a concorrência, desde que elas se sujeitem às mesmas restrições e à alta carga tributária que nós enfrentamos”, diz Salesio Nuhs, presidente da Taurus.

    Mas o maior problema da Taurus não é esse. Desde 2013, a empresa vem acumulando prejuízos. No ano passado, sua dívida total bateu em 798 milhões de reais. No primeiro semestre de 2018, mais problemas: a perda ficou em 92 milhões de reais. “Com esses dados, não é necessário aprofundar-se em maiores detalhes sobre a sua saúde financeira para constatar que, de fato, se encontra bastante preocupante a situação da Forjas Taurus neste momento”, afirma a casa de análises Suno Research em comunicado aos clientes.

    Em paralelo, a qualidade das pistolas e submetralhadoras produzidas pela Taurus vem sendo questionada por órgãos de segurança. O Ministério do Trabalho de Goiás chegou a proibir o uso de 2 500 armas pela Polícia Militar do estado no ano passado, depois de denúncias de que algumas delas dispararam sozinhas (a empresa nega a acusação). As boas notícias vindas da bolsa foram um alento para a companhia gaúcha, que correu para anunciar uma emissão de ações no intuito de levantar 400 milhões de reais até abril de 2019.

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    Períodos eleitorais são tradicionalmente voláteis para a bolsa de valores. A sensibilidade que certos papéis têm em relação ao possível impacto de mudanças nas políticas públicas levou investidores a criar informalmente o que chamam de “kit eleição”, formado por dez grandes empresas, cujo valor de mercado somava 931 bilhões de reais no fim de setembro, mas que disparou com a consolidação de Bolsonaro à frente das pesquisas e sua expressiva votação no primeiro turno. Juntas, elas atingiram 1,13 trilhão de reais em valor na última quarta-feira. O kit é composto de estatais (Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil), bancos privados (Itaú Unibanco e Bradesco), varejistas (Magazine Luiza e Lojas Renner), elétricas (Cemig e Copel), além da Embraer, que está dependendo de aprovação do governo para fazer uma fusão com a americana Boeing. No caso dessas companhias, os investidores torcem para que Bolsonaro cumpra suas promessas de campanha. Para a Taurus, seria melhor que ele esquecesse o que vem dizendo.

    Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2018, edição nº 2604

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