Com a intenção do Banco Central (BC) de determinar que um imóvel possa ser oferecido como garantia para a obtenção de mais de um financiamento, uma balela tomou as redes sociais: a criação de uma bolha no mercado imobiliário e a repetição da crise que assolou os Estados Unidos — e, consequentemente, a economia global — em 2008, a apelidada crise do subprime. A possibilidade do estouro de uma crise similar à americana é um cenário distante, segundo especialistas consultados por VEJA.
“A gente só correria este risco no Brasil se os bancos fechassem os olhos para o risco, o que não acontecerá”, diz Miguel Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, a Anefac. Segundo ele, a capacidade de pagamento do financiamento não pode ultrapassar 30% da renda dos consumidores — e, claro, os bancos não estão a fim de perder dinheiro.
O risco de derrubada do preço dos imóveis também é uma falácia — até porque qualquer instituição jamais concederia financiamentos no valor integral dos imóveis. Com a mudança, o Banco Central espera fomentar o mercado de crédito para estimular a economia.
“A agenda do BC serve para dar segurança jurídica e permitir que o Brasil retome um ritmo de crescimento rápido. A decisão de permitir que um mesmo imóvel seja oferecido como garantia para mais de um financiamento permite que o mercado de crédito cresça, porque há espaço para crescer”, diz Nicola Tingas, consultor da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento, a Acrefi. De acordo com Tingas, a consolidação do Cadastro Positivo — que compartilha os hábitos bancários entre as instituições financeiras — coíbe os riscos de inadimplência na concessão de financiamentos. E, de fato há: o estoque de imóveis à disposição soma 12 trilhões de reais, enquanto o mercado de crédito, hoje, atinge patamares de apenas 3,5 trilhões.
Para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a medida tem potencial de injetar até 500 bilhões de reais na economia do país. O foco, agora, é intensificar o uso da modalidade de tomada de empréstimos por pessoas físicas, numa modalidade que é mais utilizada por empresas. Os patamares de juros imobiliários estão mais baixo do que nunca. A taxa básica de juros, a Selic, está no patamar de 4,25% ao ano, também o menor da história, o que barateia o crédito imobiliário, tanto para o comprador quanto para o construtor. A expectativa é que, nos próximos cinco anos, os lançamentos de novas unidades em São Paulo passem de 8 bilhões de reais anuais para 30 bilhões de reais, o recorde alcançado em 2007.