O acordo de livre-comércio para automóveis leves e autopeças entre Brasil e México preocupa a indústria automotiva nacional. Para a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), apesar de positiva a abertura econômica no setor, há o temor de que as montadoras prefiram investir no mercado mexicano, o que prejudicaria a produção nacional.
Segundo a Anfavea, o México tem condições mais atrativas para empresas, como a carga tributária menor. Outros motivos apontados são “infraestrutura mais eficiente e maior escala, já que exporta para os Estados Unidos”, afirmou em nota.
O acordo de livre-comércio assinado pelos dois países passou a valer na terça-feira 19. Na prática, Brasil e México podem importar e exportar peças e carros uns para os outros sem cobrança de tarifas ou limitação quantitativa.
Dados da Organização Internacional de Veículos Automotores (OIVA), de 2017, mostram que o México exportou 410 bilhões de dólares em automóveis, em comparação com os 218 bilhões de dólares exportados pelo Brasil. Apesar disso, o Brasil fabrica mais carros que o México, aproximadamente 2,2 bilhões de veículos por ano, cerca de 300 milhões a mais do que os mexicanos.
“Se tivermos uma abertura e não competitividade, isso pode prejudicar os investimentos futuros no país no setor”, conta Antônio Megale, presidente da Anfavea.
Um dos riscos para a indústria brasileira é o de uma montadora, por exemplo, optar por fazer um determinado veículo no México, em vez do Brasil. Para que isso não ocorra, a Anfavea já enviou ao governo uma série de solicitações que, na visão da associação, tem potencial para aumentar a competitividade do setor no país.
Entre essas medidas estão questões de infraestrutura, de encargos, logística, de simplificação tributária e de desburocratização. Segundo Megale, as sugestões valeriam para todo o setor industrial e não apenas o automotivo.
O acordo entre México e Brasil também prevê, a partir de 2020, o livre-comércio para veículos pesados (caminhões e ônibus) e suas autopeças.
Crise no setor
Antes da assinatura do acordo, as montadoras instaladas no Brasil começam a apresentar sinais de crise. Desde o começo do ano, dois gigantes do ramo já ameaçaram ou anunciaram o fechamento de plantas no país, especificamente no Estado de São Paulo.
A primeira foi a General Motors. Com fábricas em São Caetano do Sul e São José dos Campos, além de Gravataí (RS) e Joinville (SC), a empresa informou, em janeiro, que poderia acabar com suas atividades no país caso seus lucros não voltassem.
No entanto, depois de diversas negociações com sindicatos, prefeituras, estados e governo federal, a GM voltou atrás. Na terça-feira, anunciou um novo investimento no Estado de São Paulo no valor de 10 bilhões de reais. A decisão ocorreu onze dias depois de o governador João Doria (PSDB) oficializar um novo programa de incentivo às montadoras, que agora podem conseguir até 25% de dedução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) se realizarem aportes de pelo menos 1 bilhão de reais e que gerem um mínimo de 400 empregos.
Depois da GM, foi a vez de a Ford anunciar o fechamento de sua fábrica em São Bernardo do Campo. Dessa vez, no entanto, a decisão parece ser mais concreta. Diversas instâncias do governo já trabalham com a possibilidade de venda da planta, para uma outra empresa automotiva. Os incentivos anunciados por Doria também podem beneficiar esse possível comprador.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC ainda negocia com a Ford, em busca de reverter o quadro. Porém, em reunião na matriz da empresa nos Estados Unidos, foi sinalizado que a planta, que produz modelos Cargo, F-4000, F-350 e Fiesta, vai realmente fechar. Os trabalhadores, agora, procuram maior protagonismo nas negociações de uma possível venda da fábrica.