Não basta ser um gigante de tecnologia do Vale Silício, nos Estados Unidos. A Microsoft também foi a maior pagadora de dividendos do mundo em 2023, com a expectativa de mais distribuição de proventos aos investidores neste ano, conforme revelação feita pelo presidente da empresa, o indiano Satya Nadella. Trata-se de uma realidade animadora para quem é acionista da companhia — e bem diferente daquela que estão enfrentando os que apostaram nos titãs da bolsa no Brasil, como a Petrobras. Com o vácuo deixado pela estatal, que anunciou recentemente a decisão de não pagar dividendos extraordinários — uma determinação do presidente Lula que contrariou o próprio presidente da petrolífera, Jean Paul Prates —, ficou mais difícil obter proventos gordos no mercado acionário brasileiro. Mas não impossível.
O Brasil está entre as nações que mais distribuíram dividendos em 2023 na comparação com outros emergentes, perdendo para a China e a Índia. No entanto, o volume pago aqui diminuiu 40% ante 2022 devido principalmente ao corte de 10 bilhões de dólares da Petrobras e de 1,2 bilhão de dólares da Vale, além de uma pequena redução feita pela Ambev, segundo pesquisa da consultoria internacional Janus Henderson.
Nesse contexto, tanto Vale quanto Petrobras, pelo seu tamanho, aparecem em boa parte dos portfólios de dividendos dos analistas de mercado. Ainda assim, eles apontam alternativas. Entre os nomes preferidos estão as instituições financeiras, com destaque para o Banco do Brasil, e empresas dos setores de energia e commodities. “O Banco do Brasil é uma estatal, mas a governança parece bem isolada de ruídos políticos neste momento”, afirma Ricardo Peretti, estrategista de ações da Santander Corretora. Nas contas dele, o dividend yield a ser distribuído pelo BB em 2024 será de 10% — o dividend yield é um índice que mede a rentabilidade dos dividendos em relação ao preço da ação na bolsa. Em termos simples: quanto maior o indicador, melhor para quem busca rechear o cofre.
O BB também está presente na carteira recomendada de dividendos do Itaú BBA, que privilegia companhias com geração de caixa previsível e que têm, por isso, características defensivas no portfólio. A expectativa positiva dos analistas com os dividendos do BB é endossada pela própria instituição. Após os eventos negativos da Petrobras, a presidente do banco, Tarciana Medeiros, negou que haveria alteração na política de distribuição de proventos, que foram elevados de 40% para 45% do lucro em 2024 — uma ótima notícia para os rentistas.
Em outra frente, as apostas no setor de energia também se aglomeram nas carteiras recomendadas dos analistas. Entre as citadas, a Eletrobras é um dos destaques, em especial pela avaliação de que as ações da empresa estão subvalorizadas diante dos bons resultados no ano passado, além do avanço no programa de desinvestimentos e redução de despesas, conforme destaca o banco BTG Pactual. “Não é para 2024, mas gostamos da Eletrobras”, afirma Peretti. “O dividend yield é menor, mas é uma empresa que tende a pagar mais dividendos no longo prazo se houver venda de ativos e renegociação de dívidas.” O setor de commodities também aparece entre os mais citados, na figura da própria Petrobras e da Vale. Especialistas consultados por VEJA foram unânimes em mencionar que o mercado parece dar o benefício da dúvida para a estatal de petróleo, na esperança de que a empresa ainda faça um pagamento extraordinário de dividendos. Nos cálculos do mercado, se houver distribuição extra, o índice da Petrobras poderá chegar a 15% do valor da ação, versus 9% caso o pagamento não ocorra.
Para a Vale, presente na maioria das carteiras dos gestores, a maior preocupação é com a queda dos preços do minério de ferro, o que pode afetar a lucratividade — e, consequentemente, comprometer o dividend yield de 2024, projetado atualmente em 9%. Nesse caso, os olhos se voltam para a China, a maior cliente da companhia. “As perspectivas atuais são boas, mas tudo está condicionado às políticas de crescimento chinesas”, diz Alex Nery, professor da FIA Business School e pesquisador do tema. Portanto, mesmo com a queda dos dividendos distribuídos no Brasil, os investidores ainda encontram boas oportunidades disponíveis no mercado.
Publicado em VEJA de 22 de março de 2024, edição nº 2885