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Produto feito no Brasil chega a ser 30% mais caro que o produzido nos EUA

Juros, impostos e burocracia estão entre os fatores que tiram a competitividade da indústria brasileira

Por Estadão Conteúdo 31 jul 2018, 07h48

Um produto feito no Brasil é 30% mais caro do que o mesmo produto feito nos Estados Unidos ou na Alemanha, países com os quais a indústria brasileira compete e que têm várias subsidiárias no país. O estudo comparativo do custo Brasil foi feito pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Nas duas edições anteriores do levantamento, apresentadas em 2010 e em 2013, essa diferença no chamado custo Brasil era de 37%. “Infelizmente a redução não foi consequência de um esforço do governo para diminuir nossos custos, mas da depreciação do real frente ao dólar e da redução da taxa de juros básicos da economia”, explica o presidente da entidade, João Carlos Marchesan.

Sem o efeito câmbio, diz ele, a diferença ficaria próxima aos porcentuais dos anos anteriores. O estudo leva em conta as variáveis de juros sobre capital de giro, insumos básicos, impostos não recuperáveis na cadeia, logística, encargos sociais e trabalhistas, burocracia e custos de regulamentação, custos de investimentos e de energia.

“O grosso da nossa falta de competitividade é um problema do Brasil e não da indústria, pois é resultado de fatores sistêmicos, sobre os quais não temos controle”, acrescenta Mário Bernardini, diretor de competitividade da Abimaq.

Única fabricante de compressores e equipamentos para refrigeração no Hemisfério Sul, a Bitzer, com fábrica em Cotia, na grande São Paulo, é um exemplo dessa falta de competitividade provocada por “fatores sistêmicos”. A empresa já exportou cerca de 35% de sua produção no início dos anos 2000 para EUA e Europa, incluindo a matriz do grupo na Alemanha.

Agora, 15% do que produz vai para o exterior, mas a grande maioria para países da região, especialmente Argentina, onde o grupo também tem uma filial. “Da porta para dentro, somos tão competitivos quanto nossa fábrica alemã, mas, da porta para fora nosso produto custa em torno de 30% mais”, diz o presidente da empresa no Brasil, Fernando Bueno.

Segundo ele, a fábrica local tem os mesmos equipamentos da matriz, opera de forma semelhante e os funcionários recebem o mesmo treinamento. “Temos produtividade, mas não temos competitividade”, diz Bueno. “O câmbio valorizado, os impostos e os juros altos tiram nossa competitividade.”

Como recuperar

A Abimaq defende uma política de Estado para recuperar a capacidade de produção das indústrias de transformação que, há dez anos, respondiam por 17% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Hoje, participam com 12%. A capacidade de investimento, antes de 18% do PIB, agora está em 15,6% e o número de trabalhadores caiu de 350 mil pessoas, em 2008, para 294,6 mil em maio. No auge da produção, em 2013, o setor chegou a empregar 380 mil funcionários.

Muitas fábricas fecharam as portas. “Não temos mais fundições de alumínio no Brasil e as de ferro são poucas”, diz Fernando Bueno, que precisa importar o produto da Alemanha.

“O ponto-chave para termos condições de investimento é recuperar a capacidade de competição da indústria local, o que obrigatoriamente passa pela redução do custo Brasil – o que não foi feito nos últimos 30 anos”, afirma Marchesan.

Em mais uma tentativa de reverter esse quadro, a Abimaq preparou uma cartilha que vem sendo entregue e debatida com os candidatos à Presidência da República. Com 22 páginas, compara a situação econômica de dez países, incluindo o Brasil, e sugere medidas prioritárias para o desenvolvimento da indústria.

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Uma delas é a necessidade de reformas estruturais (tributária, fiscal, da Previdência e monetária e cambial). As outras são uma política de desenvolvimento industrial e inserção no comércio global.

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