A preocupação com o preço dos alimentos, sentida diariamente no bolso do consumidor brasileiro, reflete na inflação. Segundo dados do IBGE divulgados nesta sexta-feira, 9, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou 0,64% em setembro, o valor é mais que o dobro da alta registrada no mês anterior e o maior resultado para um mês de setembro desde 2003, quando o indicador foi de 0,78%.
O IPCA se refere às famílias com rendimento de um a 40 salários mínimos (41.800 reais mensais) e, a alta dos alimentos pesa no bolso dos mais pobres. Essa cesta de consumo que compõe a medição da inflação oficial do país é atualizada a cada cinco ou dez anos. Inclusive, teve mudanças na medição a partir de janeiro deste ano, com a inclusão de itens como transporte por aplicativo e serviço de streaming. Além disso, com a revisão, os alimentos passaram a ter peso menor que os transportes na cesta das famílias, o que reflete essa diferença entre a pressão dos preços medida pelo indicador e sentida pelo consumidor.
Apesar das altas consecutivas, a inflação continua tecnicamente controlada. No ano, está em 1,34% e em 12 meses registra alta de 3,14%, dentro da meta do governo para 2020, de 4%. A diferença na sensação e nos dados se reflete pela cesta de produtos do IBGE, que, além dos alimentos, faz a mediana de outros setores como educação e saúde, que estão com menos pressão nos preços.
Assim como em agosto, o grupo de alimentos e bebidas foi o que mais acelerou, com alta de 2,28%, trazendo grande impacto às famílias. Os alimentos que fizeram com que a alta fosse mais sentida foram óleo de soja (27,54%) e do arroz (17,98%), que já acumulam no ano altas de 51,30% e 40,69%. As carnes também aceleraram, com alta de 4,53%.
Segundo o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, a alta nos preços do arroz e do óleo está relacionada ao dólar alto e à maior demanda interna. “O câmbio num patamar mais elevado estimula as exportações. Quando se exporta mais, reduz os produtos para o mercado doméstico e, com isso, temos uma alta nos preços. Outro fator é demanda interna elevada, que por conta dos programas de auxílio do governo, como o auxílio emergencial, tem ajudado a manter os preços num patamar elevado. No caso do grão de soja, temos ainda forte demanda da indústria de biodiesel”, explica.
Outros produtos que subiram na cesta das famílias foram o tomate (11,72%) e o leite longa vida (6,01%). Por outro lado, caíram os preços da cebola (-11,80%), da batata-inglesa (-6,30%), do alho (-4,54%) e das frutas (-1,59%).
Além de alimentos e bebidas, seis grupos também tiveram alta em setembro, com destaque para os artigos de residência (1,00%), os transportes (0,70%) e habitação (0,37%). O grupo vestuário, após quatro meses consecutivos de quedas, também apresentou alta de 0,37% contribuindo com 0,02 p.p. para o resultado de setembro.
“Nos transportes, os combustíveis continuam em alta, principalmente, a gasolina (1,95%), cujos preços aumentaram em todas as áreas pesquisadas, exceto Salvador. A gasolina é o subitem de maior peso no IPCA. As passagens aéreas (6,39%) também aumentaram após quatro meses em queda. Lembrando que a coleta de preços das passagens aéreas é feita com dois meses de antecedência. Os preços foram coletados em julho para quem ia viajar em setembro”, detalha Kislanov.
Entre os grupos que tiveram redução nos preços, o gerente da pesquisa destaca o maior impacto negativo (-0,09 p.p) de saúde e cuidados pessoais, que também teve a menor variação (-0,64%) em setembro. “Isso deve-se à queda de 2,31% nos planos de saúde. Em agosto a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) decidiu suspender a aplicação de reajustes aos contratos de planos de saúde para todos os tipos de planos até o fim de 2020”, explica. Os demais grupos ficaram entre o recuo de 0,09% em Educação e a alta de 0,15% em Comunicação.